Não é o fim, é apenas mais um recomeço

Temer, empossado Presidente, já tem o que ambicionava. E o Brasil, quando terá o que merece e quer?

Com muitas citações de artigos da lei e muitas “excelências”, consumou-se no Senado brasileiro aquilo que há muito era óbvio: a destituição de Dilma Rousseff da Presidência do Brasil. Por um total de 61 votos contra 20, Dilma foi considerada culpada de “crime de responsabilidade” em acções lesivas do país, durante o exercício do cargo. Nada mais. Na verdade, já nem era isso que estava em causa agora, mas sim a legalização de um processo que colocara Michel Temer como presidente interino para o tornar efectivo.

O PMDB, alicerçado nos inúmeros erros do PT na governação e a coberto da perda de apoio de Dilma entre grande parte das classes decisórias (muito menos que nas classes populares), formou governo e não tinha a mínima intenção de abrir mão dele. As culpas de Dilma foram apenas o pretexto: arredá-la a ela, era (e foi) o mesmo que arredar o PT. “Fim do PT, fim da corrupção”, disse o senador Ronaldo Caiado, num momento em que os ânimos ainda ferviam. Mas é ilusório acreditar nisto. Porque há muitas mãos sujas aqui, e a corrupção não é, infelizmente para o Brasil, coutada de um só partido, é pasto e arma de muitos, incluindo o PMDB. Talvez por isso tenha sido votada em separado a manutenção de direitos políticos de Dilma.

Afastada da Presidência, ela não foi inabilitada para o exercício de função pública por oito anos, como se previa. E isso, se fizer jurisprudência, pode ajudar um figurão como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que no dia 12 de Setembro será também julgado no Senado. Perderá ele o mandato mas conservará os direitos políticos, apesar de sobre ele recaírem suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro? Se assim for, “ganham” todos: Dilma é afastada, mas pode gritar “golpe” e clamar inocência perante a história; Eduardo Cunha sairá perfidamente ileso, mesmo que o afastem; e Temer, empossado Presidente, já tem o que ambicionava. E o Brasil, quando terá o que merece e quer?

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