Estado já injectou 417 milhões na CP desde o início do ano

Prejuízos da transportadora pública caíram 37% para 74 milhões graças a estas operações, ao aumento das vendas e à eliminação de provisões.

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Venda de bilhetes aumentou quase 5% até Junho PÚBLICO/Arquivo

O Estado já injectou mais de 400 milhões de euros na CP desde o início do ano, por via de aumentos de capital e de perdões de dívida. Estas operações permitiram à transportadora ferroviária registar uma descida de 332,2 milhões no passivo e reduzir os gastos financeiros. Resultados que também ajudaram os prejuízos a recuar 37%, a par do aumento das receitas, da eliminação de provisões e da privatização da CP Carga.  

O relatório e contas da empresa pública relativo ao primeiro semestre, que foi divulgado nesta segunda-feira, revela que o Governo aprovou em Março a realização de um primeiro aumento de capital de 113 milhões de euros. A tranche inicial, de 29 milhões, entrou logo nesse mês, seguindo-se uma parcela de 84 milhões em Abril. No documento, a transportadora refere que, a 13 de Julho, foi aprovado um novo aumento de capital, desta vez de 37 milhões, a concretizar até Setembro. A par destas injecções de dinheiro, o executivo decidiu ainda avançar com um perdão parcial da dívida da empresa do Estado. Também em Julho, foi aprovada a conversão em capital de serviço de dívida vencido, no valor de 266,8 milhões.

As operações realizadas em 2016 para melhorar as contas da CP, que seguem a estratégia iniciada pelo anterior Governo PSD/CDS, já atingem 416,8 milhões de euros. No entanto, segundo a análise feita pela Unidade Técnica de Apoio Orçamental ao Orçamento do Estado para este ano, o Governo apenas tinha previsto gastar este ano 190 milhões em dotações de capital à transportadora, assim como 37 milhões a título de empréstimo.

Os aumentos de capital e o perdão de dívida tiveram um impacto directo nas contas da empresa, diminuindo a dívida e reduzido os gastos com pagamentos de empréstimos, por exemplo, ao mesmo tempo que lhe permitiram redireccionar as despesas para a operação. O relatório e contas da transportadora ferroviária mostra que o passivo caiu 332,2 milhões no primeiro semestre face a Dezembro do ano passado, fixando-se em 3,6 mil milhões, e que os custos financeiros recuaram 15,4 milhões.

A CP chegou a Junho com um prejuízo de 74,2 milhões, menos 37% do que no período homólogo. Além das injecções de dinheiro público, também contribuiu para este recuo a melhoria do resultado operacional. Neste capítulo entra o aumento das vendas com bilhetes de comboio, que subiram 4,6% para perto de 110 milhões, impulsionados por um acréscimo de 1,2% no número de passageiros transportados (56 milhões).

Mas a queda dos prejuízos também foi influenciada pelo facto de terem desaparecido do balanço da empresa provisões de 28,6 milhões que tinham sido constituídas em 2015 por causa de um acordo com os representantes dos trabalhadores sobre a inclusão de abonos variáveis nas remunerações usadas para cálculo dos subsídios de férias e de Natal. Outro factor que teve impactos nas contas foi a privatização da CP Carga, que foi alienada no início de Janeiro ao grupo MSC. Como a transportadora ferroviária lembra, a operação “conduz a uma redução dos rendimentos e dos gastos”.

No relatório e contas, a empresa destaca ainda que o primeiro semestre deste ano ficou igualmente marcado pela liquidação do último swap, os instrumentos que cobrem o risco de variação das taxas de juro dos empréstimos e cuja celebração por empresas do Estado causou polémica em 2013. “Durante o mês de Abril ocorreu o vencimento do único instrumento de gestão de risco financeiro que o grupo CP detinha em carteira”, que acumulava um prejuízo de 1,3 milhões. Ainda no que toca aos resultados financeiros, a transportadora também foi beneficiada pela amortização dos financiamentos da Eurofima e do Banco Europeu de Investimento.

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