Em noites de lua cheia, Sintra recebe um festival de luz

Com muitas visitas durante o dia, a paisagem de Sintra é esquecida durante a noite. O objectivo do Aura Festival é valorizar a vila a partir das 21h. Como? Iluminando-a.

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O festival decorre até dia 21 de Agosto. DR

As noites de lua cheia aproximam-se e com elas chega a segunda edição do Aura - Festival Internacional de Iuz. A partir desta quinta-feira, e até domingo, quem percorrer a vila de Sintra desde do Museu das Artes de Sintra (MU.SA) à Quinta da Regaleira vai dar de caras com um circuito artístico que inclui videomapping e instalações em edifícios classificados ou um documentário sobre o território e os seus moradores. O tema deste ano é Histórias da Noite.

“Sintra tem uma paisagem cultural, foi classificada a Património Mundial, e muitas vezes não se pensa na paisagem nocturna”. Quem o diz é a directora artística do festival, Patrícia Freire. E porquê um festival de luz? Primeiro, o evento surge pela sustentabilidade de iluminação pública na vila. Depois, pensou-se na luz como espectáculo num meio que se divide entre o urbano e o rural. A partir daí, nasce a vontade de desenvolver um projecto que envolvesse cidadãos, instituições e associações locais e comércio local. “Queremos devolver a paisagem nocturna aos moradores e a quem visita a vila”, sublinha Patrícia.

Há um ano o festival fez-se na lua cheia de então, entre 27 e 30 de agosto, e foi algo “simplista”, nas palavras de Patrícia. “Este ano vamos dar mais um passo”, acrescenta. O principal objectivo é a “revelação da paisagem nocturna”. Para tal, o festival trabalha o espaço público e interage com lojas, casas particulares e museus da vila, como o MU.SA e o Museu de História Natural. Também o Palácio Nacional de Sintra e a Quinta da Regaleira participam nas actividades.

“Não interessa fazer um festival que não tenha a participação das pessoas. O nosso foco é a reconciliação delas com o espaço onde estão”, esclarece Patrícia Freire, acrescentando que a vila recebe milhões de turistas por ano e muitas vezes não há uma ligação com o local que se visita. Para tal, há que criar um trabalho de proximidade com a população, ao que a sua formação como antropóloga foi essencial. “As pessoas vão reconhecendo o nosso trabalho e interagindo”, diz.

Este ano, há também uma segunda edição dos documentários Cartografia Emocional. Em 40 minutos, o filme mostra histórias e vivências dos actuais e antigos residentes de Sintra. O percurso da projecção é da Correnteza à rua Dr. Alfredo da Costa. Centro de Ciência Viva de Sintra e na Rede de Participação Juvenil de Sintra decorrem, entretanto, duas palestras sobre a história da luz e sobre a rede associativa, respectivamente.

Na programação destacam-se artistas nacionais e estrangeiros, numa selecção que começou logo de Janeiro a Março de 2016, quando foi lançado um concurso à comunidade artística e científica internacionais. Dos cerca de 70 trabalhos, foram escolhidos 12 que fizeram residência artística em Abril. Entre os artistas presentes contam-se Oskar&Gaspar, que irão apresentar videomapping na fachada do Palácio Nacional, a partir de um levantamento fotográfico feito no interior do edifício. “Isto não é só entretenimento”, aponta a directora artística. A dupla alemã Carlos Abreu e Alfred Kurz fará uma instalação de luz na Fonte Mourisca e o colectivo português Rethorica Studio terá uma instalação na Quinta da Regaleira e no Miradouro da Correnteza.

O festival tem entrada livre e decorre das 21h às 00h30. A organização aconselha que se deixe o carro no parque de estacionamento ou que se utilize o comboio, pois os bilhetes da CP (Comboios de Portugal) serão de dois euros a partir das 19h. No ano passado, o festival recebeu 20 mil pessoas, mas a organização espera que esse número seja ultrapassado. “Recebemos de 300 a 400 telefonemas sobre visitas guiadas no MU.SA”, diz Patrícia Freire. Quanto ao futuro do Aura, há uma certeza. “A terceira edição já está em perspectiva”, garante a directora artística.

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