França detém terceiro suspeito por ataque na igreja

Homem de 19 anos tinha no seu telemóvel o vídeo em que os dois atacantes identificados e mortos juravam fidelidade ao Estado Islâmico.

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O padre Augusto Moanda dirige-se à comunidade muçulmana da vila AFP/CHARLY TRIBALLEAU
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Uma mulher deposita flores junto à igreja onde o padre foi degolado AFP/CHARLY TRIBALLEAU
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Um minuto de silêncio nesta sexta-feira pela vítima do ataque terrorista AFP/CHARLY TRIBALLEAU
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Freiras prestam homenagem ao padre Jacques Hamel REUTERS/Pascal Rossignol

As autoridades francesas detiveram e indiciaram um terceiro homem suspeito de envolvimento no ataque à igreja de Saint-Etienne-du-Rovray, na Normandia francesa, que terminou com o assassinato do padre Jacques Hamel, de 85 anos. Trata-se de um jovem de 19 anos que tinha no telemóvel o vídeo dos dois atacantes já identificados e mortos pela polícia em que estes juravam fidelidade ao Estado Islâmico e um deles, Abdel Malik Petitjean, se referia à realização de “uma acção violenta”.

Além desta detenção – o nome do suspeito não foi ainda revelado –, a polícia tinha ainda sob custódia, na sexta-feira à noite, mais três pessoas, revelou a AFP: um refugiado sírio, um francês de 30 anos conhecido de Petitkean e um menor de 16 anos, cujo irmão, próximo do outro atacante morto, Abdel Kermiche, partiu para a zona entre o Iraque e a Síria em Março de 2015.

O ataque do dia 26 de Julho aconteceu pela manhã, enquanto a missa era celebrada na igreja de Saint-Etienne-du-Rovray. Petitjean e Kermiche entraram no local e fizeram reféns, incluindo o padre Jacques Hamel e algumas freiras. Uma delas conseguiria fugir e alertar as autoridades, o que permitiu que os dois homens de 19 anos fossem abatidos, quando se preparavam para fugir. Antes, porém, degolaram o velho pároco e feriram com gravidade uma segunda pessoa.

Em declarações ao jornal católico La Vie, citado pelo britânico The Guardian, duas freiras que permaneceram no interior durante o ataque afirmaram que os dois homens pareciam agressivos e nervosos no início, mas que, depois, um deles assumiu um sorriso tranquilo “de alguém que está feliz”, enquanto conversavam com as mulheres sobre o Corão.

A irmã Helene Decaux, na casa dos 80 anos, contou que, a determinada altura, sentiu-se cansada e pediu para se sentar, com um dos atacantes a chegar-lhe a bengala, que ela pedira. Um dos homens perguntou-lhe então se ela conhecia o Corão, ao que a freira respondeu que sim e que o respeitava “como a Bíblia”, preferindo as referências que aquele livro sagrado fazia à paz. O atacante terá então dito: “Paz é o que queremos… Enquanto houver bombas na Síria vamos continuar os nossos ataques. E vão acontecer todos os dias. Quando vocês pararem, nós paramos.”

O facto de os dois jovens estarem identificados pelas autoridades pela sua radicalização – Kermiche aguardava mesmo por julgamento, depois de ter tentado ir para a Síria por duas vezes – causou indignação em França, onde o Governo tem sido acusado de não actuar com a força necessária, perante o conjunto de ataques de que o país tem sido alvo.

Valls quer nova relação com o islão

Numa entrevista ao Le Monde, esta sexta-feira, citada pela AFP, o primeiro-ministro Manuel Valls disse que o caso de Kermiche representava uma “falha” da justiça, defendendo que esta tem que se adaptar à nova realidade criada pelo Estado Islâmico. “Esta realidade deve levar os magistrados a assumirem uma abordagem diferente, caso a caso, tendo em mente as práticas de dissimulação muito fortes dos jihadistas”, disse. Manuel Valls mostrou-se ainda favorável a uma interdição temporária ao financiamento estrangeiro de mesquitas, defendendo que é preciso “inventar uma nova relação” com o Islão em França e que os imãs devem ser formados ali e não “no exterior”.

O ataque à igreja e o assassinato do padre Jacques Hamel causou profunda comoção e levou já a várias acções de solidariedade entre as diferentes representações religiosas no país. Em Saint-Etienne-du-Rouvray, na sexta-feira, algumas mulheres católicas foram rezar à mesquita, naquele que fora indicado como um dia de jejum pelos católicos – num apelo seguido e apoiado pelas comunidades protestante e judaica – e em que os responsáveis muçulmanos apelaram aos fiéis para que se dirigissem às igrejas no domingo, em sinal de solidariedade.

O cura da vila, Augusto Moanda, citado pelo Le Monde, apelou: “Devemos construir pontes, não muros. Não há senão uma porta entre nós, que devemos considerar como uma ponte.” O presidente do Comité Regional do Culto Muçulmano, Mohamed Karabila, frisou: “Cristãos e muçulmanos vêem-se todos os dias. Aqui é a incarnação de uma vivência conjunta. Antes mesmo de construir a mesquita, reflectimos no facto de querermos que ela estivesse no centro da vila e ao lado da igreja.”

Esta sexta-feira foi ainda revelado que as autoridades austríacas entregaram à França dois homens suspeitos de terem estado envolvidos nos atentados de 13 de Novembro, em Paris. Adel Haddabi, um argelino de 29 anos, e Mohamad Usman, um paquistanês de 35, foram acusados de “associação terrorista” e presos à noite, disse uma fonte judicial à AFP.

Os dois tinham sido detidos num centro de refugiados austríaco em Dezembro, no âmbito de um mandato de captura internacional emitido pela França.

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