Um gostinho a série B

Terror na Escuridão merece ser visto como laboratoriozinho de situações e soluções inventadas com pouco (basicamente só há dois décores) mas com uma certa imaginação.

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Voltar a fazer com que o espectador sinta uma certa solidão desamparada perante o escuro: Terror na Escuridão

Primeira longa-metragem do sueco David F. Sandberg, realizador de uma curta que deu nas vistas de James Wan (o autor de Saw e The Conjuring) com intensidade suficiente para que lhe patrocinasse (como produtor) esta expansão/remake/variação com a duração de uma feature. O terror e o low budget sempre combinaram bem, e o tom e os meios de Terror na Escuridão, à evidência menores, lembram, nos melhores momentos, alguns clássicos da série B – até Jacques Tourneur, se fizermos questão de chegar tão longe. Há essa preocupação, que está na raiz de tudo, com o mais básico dos medos: o escuro. E, sobretudo enquanto não “formata” ou normaliza a sua relação com a escuridão (digamos os primeiros 20/30 minutos), o filme de Sandberg consegue devolver eficazmente esse medo e concretizar essa tarefa difícil que é voltar a fazer com que o espectador sinta uma certa solidão desamparada perante o escuro. Depois habitua-se e a lógica passa a ser muito mais a do “susto” do que a do “medo”, mas há inteligência na forma como Sandberg “reduz”, em prol do ambiente do filme, aquilo que na maior parte dos filmes (deste ou doutro género) hoje em dia é tratado como um clichê: a música, por exemplo, ausente em muitas cenas, juntando o “silêncio” à “escuridão”, o espectador deixado sem “dicas” sonoras sobre o que esperar dos segundos seguintes.

Passando por cima da (in)verosimilhança da narrativa, das personagens mal desenhadas ou demonstrativamente apresentadas, Terror na Escuridão merece ser visto como laboratoriozinho de situações e soluções inventadas com pouco (basicamente só há dois décores) mas com uma certa imaginação (do som dum soalho de madeira a ser esgravatado às fontes de iluminação que resgatam a segurança das personagens, seja um néon de uma loja de tatuagens seja o visor de um telemóvel). Se não se for à espera de uma reencarnação de Jacques Tourneur encontra-se o suficiente para voltar a sentir um gostinho de uma série B à antiga.

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