Academismo cuidado mas monótono

Academismo cuidado mas liso e monótono: Anarquistas é uma espécie de super-folhetim-televisivo duma correcção que nem é resgatada pelos impulsos do “realismo à francesa”.

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Os Anarquistas é um filme de época, mas não necessariamente um filme histórico

Um motivo narrativo clássico, o do agente infiltrado que vê a sua lealdade vacilar, serve de fio condutor a este retrato de um grupo anarquista na França da viragem do século XIX para o século XX. É um filme de época, mas não necessariamente um filme histórico: mais do que reconstituir ou debitar uma lição de história sobre o movimento anarquista o que parece interessar Wajeman é o melodrama psicológico, a identidade cindida, o retrato de grupo – aliás insistentemente filmado em interiores escuros, como que recortado do mundo, num isolamento que salienta essa vontade de ficar mais com o grupo de personagens do que com a sua relação com a época e com o contexto.

Wajeman, se parece apontar a uma certa sofisticação neo-clássica (já vimos James Gray ser apontado com uma das suas influências…), não revela arcaboiço de cineasta para erguer Anarquistas acima dum academismo por certo cuidado mas liso e monótono, sem nenhuma energia especial, espécie de super-folhetim-televisivo duma correcção que nem é resgatada pelos impulsos do “realismo à francesa”, com os planos de câmara à mão e a proximidade física dos actores. A luz do filme é escura, e metaforicamente o filme também é escuro: consegue até secar toda a luminosidade de Adèle Exarchopoulos (a Adéle do filme de Kechiche), tarefa que se diria impossível de concretizar.

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