A vida e a morte como grande maçada

Vinte e tal anos depois de Cinema Paraíso, Giuseppe Tornatore continua a não encontrar a nota certa.

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Giuseppe Tornatore nunca mais conseguiu repetir o sucesso do Cinema Paraíso, embora ande há 20 e tal anos a tentar seguir a mesma fórmula de “magia” sentimental embevecida e a mesma estrutura que guarda para o final um momento de apoteótica revelação e explosão dessa “magia” das emoções e dos sentimentos. A Correspondência, outro filme com elenco internacional (Jeremy Irons e Olga Kurylenko, um inglês e uma americana), casa a ciência e o sobrenatural, conta a história de um par de astrofísicos e do que acontece quando o homem (Irons) morre mas a amante (Kurylenko) continua a receber mensagens dele, dedicando-se, cheia de esperança e entre o “positivismo” científico e o mistério místico, a encontrá-lo. Mas o filme, para além de nunca encontrar a nota certa e soar sempre a falso, resolve-se acima de tudo pelo texto – as mensagens, os monólogos de Kurylenko – e esse texto não é, digamos assim, muito bom nem muito interessante, antes repleto de platitudes. Como Tornatore não tem muito para mostrar, naquele registo de mise en scène compostinha a simular uma frieza cheia de artificialidade decorativa, o espectador desliga cedo, quer do mistério das personagens quer do filme. Na sua obsessão por replicar Cinema Paraíso, Tornatore já fez bem pior e bem mais enjoativo do que isto, que é apenas, fundamentalmente, muito maçador. Em todo o caso o efeito é o mesmo, e quando chega o tempo da “explosão” emocional já estamos bem longe, nada disponíveis e, sobretudo, nada crentes.

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