O renascimento do magistrado

Fabrice Luchini, antigo “regular” de Eric Rohmer, faz com que este filme valha a pena.

Foto
Fabrice Luchini atravessa o filme num registo silencioso e interior

O tema não é original: a história do homem envelhecido e severo, um pouco amargo, a abrir brechas na sua carapaça, a tornar-se mais tolerante para com os outros e para com a vida em geral. E se Christian Vincent é pouco mais do que competente no seu realismo doseado de um pouco de artificialidade e teatralidade (sobretudo paras as cenas, que são muitas, num ambiente de tribunal, esse palco tradicional para a grande comédia ou o grande drama da justiça), O Senhor Juiz tem um trunfo de peso, Fabrice Luchini, antigo “regular” de Eric Rohmer e actor inclassificável. É por ele, ainda por cima em pleno domínio da gravitas, ora aparentemente concentrada ora aparentemente mais “despassarada”, que a idade lhe trouxe, que vale a pena ver O Senhor Juiz, história de um juiz temível pela intransigência – os colegas chamam-lhe “um vento gelado” – que ao reencontrar inesperadamente, enquanto jurada de um caso bastante violento, uma antiga amante (a dinamarquesa Sidse Babette Knudsen), se vai pacificando com uma parte adormecida da sua alma.

Os factos, o courtroom drama, tudo se vai tornando secundário – o que conta é assistir à hipótese de renascimento daquele homem que se dava perdido para as emoções. Luchini, sempre discreto, num registo “silencioso” e interior, dá esse processo de maneira impecável, e Christian Vincent tem a inteligência bastante para perceber que o filme “é” Luchini, e para não o trair.4

Sugerir correcção
Ler 1 comentários