EDP quer sinais “rápidos” de que a contribuição extraordinária vai diminuir

António Mexia voltou a criticar a CESE, o modelo de financiamento da tarifa social, e apontou o dedo a Bruxelas dizendo que o BCP deve concorrer ao Novo Banco.

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"Gostamos da tarifa social, mas achamos que deve seguir as regras da Comissão Europeia", afirmou António Mexia Daniel Rocha

No dia em que apresentou a analistas financeiros e investidores o novo plano de negócios para os próximos cinco anos, que contempla um investimento de sete mil milhões de euros, o presidente da EDP voltou a fazer críticas à contribuição extraordinária para o sector energético (CESE). Frisando que a energia é o “o único sector que tem um imposto sobre o investimento”, Mexia lembrou que as contas que a empresa teria para apresentar ao mercado nos últimos anos “seriam outras” senão tivesse sido introduzida a taxa (o efeito foi de cerca de 180 milhões de euros em três anos).

Por isso, na conferência de imprensa que se seguiu à apresentação do plano de negócios, o gestor disse estar à espera de “sinais muito claros e rápidos” de que haverá “uma redução” dos montantes cobrados (algo que chegou a estar previsto pelo anterior Governo). “Há condições para isso”, assegurou. Na apresentação aos analistas o presidente da EDP referiu o horizonte temporal de 2020 para a eliminação definitiva da CESE, mas garantiu que a empresa está “a fazer o que tem de ser feito para remover” um “imposto injusto”.

As críticas também se repetiram para o modelo de financiamento da tarifa social, cujo custo a empresa estimou em 40 milhões de euros para um universo de 500 mil contratos (ainda que a meta anunciada pelo Governo seja a de levar os descontos da luz a um milhão de beneficiários). "Gostamos da tarifa social, mas achamos que deve seguir as regras da Comissão Europeia", que defende o financiamento do Estado ou repercutido nas facturas dos demais clientes de electricidade. “Vamos trabalhar para Portugal adoptar a filosofia europeia", assegurou António Mexia.

Aposta nos EUA

Independentemente das questões a resolver a dentro de portas, a mensagem deixada aos investidores e analistas foi precisamente a de que a EDP é uma empresa melhor posicionada que as suas pares porque escolheu internacionalizar-se e apostou nas renováveis, numa altura em que esse passo ainda não era evidente para todos. "O que se escolheu fazer com o dinheiro foi importante no passado, mas será ainda mais importante no futuro", sublinhou António Mexia.

Os Estados Unidos (onde a aposta nas eólicas é prioritária e o desenho de mercado favorece os contratos de longo prazo, que dão maior previsibilidade às receitas) continuam a ser uma peça fundamental da estratégia. O mercado norte-americano será responsável por 65% do crescimento da EDP Renováveis até 2020. “Vamos investir em 700 MW ano, em mercados rentáveis, onde já estamos, para produzir resultados mais rapidamente e não elevar os custos”, disse o presidente da empresa, João Manso Neto. “Não é um plano revolucionário, é uma continuação, mas as mensagens são claras” e visam um aumento anual médio de 8% do EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) e de 16% do lucro entre 2015 e 2020, explicou o gestor.

A EDPR representa já cerca de 40% do EBITDA do grupo EDP, que a empresa estima que cresça em média 3% ao ano até 2020 (atingindo cerca de 3600 milhões este ano). Já o resultado líquido deverá subir cerca de 4% (este ano, a estimativa aponta para os 900 milhões de euros).

A redução de custos será uma das palavras de ordem no grupo nos próximos anos, já que os planos incluem um corte de 700 milhões de euros até 2020.

Definindo a EDP como uma empresa “pragmática” num sector onde falta pragmatismo, António Mexia frisou que há que saber onde investir. A EDP, assegurou, “não vai disparar para todo o lado”. Cerca de 84% do investimento previsto até 2020 será encaminhado para projectos de renováveis com contratos de longo prazo (54%) e para activos regulados (30%). “Já estamos a negociar aquela que será uma importante fatia do crescimento nos EUA”, ilustrou Mexia, lembrando que os Estados Unidos, ao contrário da Europa é um país “que não muda as regras do jogo a meio”.

BCP de olho no Novo Banco

Mexia voltou a fazer uma analogia desportiva para responder à pergunta sobre se o BCP – de que a EDP é accionista de referência, com 2,71% do capital – tem condições de analisar o processo de privatização do Novo Banco e ocupar o lugar de “grande banco privado português”, como defendeu recentemente o presidente da instituição, Nuno Amado.

“Sejamos claros, quem paga parte da factura [o BCP é accionista do Fundo de Resolução] tem no mínimo que ter o direito a olhar para o jogo e não haver à partida exclusão de jogadores ou um plano inclinado”.

Em declarações recentes, Nuno Amado deixou claro que a participação do banco no processo de privatização depende de uma negociação entre o Estado e a DGComp [Direcção Geral de Concorrência da Comissão Europeia], já que o BCP está proibido de realizar aquisições pelo facto de ainda beneficiar de auxílios estatais, os chamados Cocos, que ainda não reembolsou na totalidade.

Para Mexia, o desfecho deveria ser claro: “Tal como a política energética em Portugal não deve ser feita por política de concorrência, a política do sistema financeiro não deve ser ditada pela DGComp”, afirmou. O PÚBLICO viajou a convite da EDP

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