Galopim de Carvalho: “Fui afastado do museu que ajudei a criar”

Professor lamenta que tenha sido “ostracizado” do Museu do Quartzo, em Viseu, equipamento que considera estar ao abandono e do qual foi retirado o seu nome. Autarquia contrapõe com número de visitantes e de actividades desenvolvidas naquele espaço.

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Galopim de Carvalho, o "avô dos dinossauros" ANDRE KOSTERS/LUSA
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Quartzo João Henriques
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O Museu José Lorena

O antigo director do Museu Nacional de História Natural (MNHN), Galopim de Carvalho, está indignado com o que considera ser um “abandono” por parte do actual executivo da Câmara de Viseu ao Museu do Quartzo. O equipamento, que pertence à rede municipal de museus, foi inaugurado em 2012 e é o único no mundo dedicado a este mineral. Está localizado numa antiga exploração de quartzo e foi idealizado pelo professor que assumiu também, na altura, a sua coordenação científica.

Galopim de Carvalho, conhecido como o "avô dos dinossauros", lamenta que tenha sido “ostracizado” pela actual vereação, liderada por Almeida Henriques (PSD) e com a qual diz nunca ter falado, e de não estar a ser cumprido o protocolo estabelecido com o MNHN. Critica a falta de uma equipa técnica competente, da ausência de actividades científicas e o facto de ter sido retirada de uma das paredes interiores a placa com a referência ao seu nome.

“Registo com séria preocupação e natural tristeza o abandono a que, por parte da autarquia, tem vindo a ser votado este invulgar museu (único no mundo, no seu género), bem conhecido pela comunidade dos mineralogistas profissionais e amadores nacionais e estrangeiros”, escreveu o geólogo numa carta enviada em Março ao executivo municipal. Nela, Galopim de Carvalho alerta ainda para o facto do museu não ter “ninguém capaz de garantir a função pedagógica que presidiu a sua criação”.

O professor diz estar disponível para continuar a levar por diante um projecto ao qual se dedicou “entusiasticamente por um período de quase duas décadas, sempre pro bono” a bem do “significado científico e pedagógico que encerra o museu e do prestígio de Portugal”.

Resposta chega dois meses depois

Para o professor, a “ofensa” da autarquia viseense é ainda comprovada pela retirada da placa com a inscrição Centro Interpretativo Galopim de Carvalho. “Apagar o nome de uma pessoa que nunca viram e não conhecem é uma atitude deliberadamente ofensiva”, sublinha.

Os alertas e os lamentos enviados na carta dirigida ao executivo municipal em Março, segundo Galopim de Carvalho, só tiveram resposta a 3 de Maio, na semana em que a vereadora da Cultura foi contactada pelo PÚBLICO. Nesse dia, conta o professor, recebeu um e-mail com esclarecimentos e um pedido de desculpa por a placa ainda não ter sido reposta, depois de ter sido retirada pela necessidade de pintar a parede onde estava aplicada. “Esta intervenção obrigou a remover o vinil autocolante com a inscrição, situação que ultrapassaremos brevemente”, explica Odete Paiva.

A vereadora da Cultura na Câmara de Viseu rejeita que o museu esteja “ao abandono” e contrapõe com o número de visitantes e as actividades que ali se desenvolvem, destacando também o facto do município integrar o roteiro de minas e locais de interesse geológico e mineiro da Direcção Geral de Energia e Geologia.

“Em Março tivemos 738 visitantes e em Abril 925, números que são bons e basta ver as mensagens que são deixados no Livro de Visitas com elogios ao trabalho que estamos a desenvolver”, sustenta Odete Paiva. Refere, por outro lado, as “inúmeras exposições temporárias” a decorrer e as que já estão agendadas até meados de 2017 e a procura do espaço por parte de grupos escolares, principalmente dos ensinos secundário e superior.

A vereadora esclarece que o Museu dispõe de um quadro de colaboradores “competente”. “Os técnicos superiores de que dispomos têm licenciatura em geologia e educação, além dos assistentes operacionais”, sustenta.

“Ter o nome do professor Galopim de Carvalho associado a este Museu é uma coisa que muito nos honra”, conclui Odete Paiva.

O museu

Orçado em cerca de um milhão de euros, o Museu do Quartzo começou a ser construído em 2006. A inauguração aconteceu seis anos depois.

Único no mundo, Galopim de Carvalho lembra que este equipamento suscitou o apoio e o entusiasmo dos departamentos de mineralogia e cristalografia das universidades portuguesas e teve, na sua parte final, “o trabalho igualmente pro bono do catedrático de Mineralogia da Faculdade de Ciências de Lisboa, Fernando Barriga”.

“O desenvolvimento do respectivo projecto mereceu o acompanhamento de investigadores internacionais nesta área científica e foi opinião de alguns que o museu do quartzo concebido no moldes expostos no respectivo projecto, tem todas as condições para suscitar o patrocínio por parte de empresas que têm no quartzo a principal matéria-prima, como é, por exemplo, a Swatch”, salienta o geólogo.

Galopim de Carvalho, no e-mail que trocou com a vereadora da Cultura, ressalva ainda que o Museu do Quartzo é “algo demasiado importante que entendo dever estar acima das contingências, sempre efémeras, e dos protagonistas de circunstância”.

“Este museu é fruto de cerca de 17 anos de trabalho voluntário que cumpri a título pessoal e, na altura, como director do Museu Nacional de História Natural, em cumprimento do protocolo assinado com a anterior vereação, em 14 de Outubro de 1997”, recorda.

 

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