Piero Messina estraga Juliette Binoche
O atordoamento de Binoche, actriz que não víamos assim, tão despida de maneirismos, há muito tempo, é sufocado sem tréguas pelas pretensões grandiloquentes do seu realizador.
Há algum tempo que não se via Binoche assim, tão seca, tão despida de maneirismos e tão esculpida pela luz e pela sombra de forma essencial – uma fotogenia reencontrada na idade madura. Interpreta o papel de uma mulher sacudida por um golpe emocional brutal, a morte do filho, que nos dias a seguir ao funeral ignora a existência do luto. É nesses dias que chega à Sicília, onde tudo se passa, a namorada francesa do filho, que nada sabe do que aconteceu.
Dir-se-ia então que há uma enorme contradição, e frustração, em A Espera: é que este tempo atordoado de Binoche, personagem que não consegue encontrar o momento de sair da escuridão e acender a luz, é sufocado sem tréguas pelo realizador. Não será um acaso: o assistente de Paolo Sorrentino nos execráveis This Must Be the Place e A Grande Beleza “aprendeu” com o “mestre”, e assim todas as modulações secretas que se poderiam tactear são enfatizadas pela incontinência sinfónica de Messina, pela necessidade de mostrar gesto, de mostrar-se, sei lá, realizador.