Hitchcock e Truffaut, forever

É uma das estreias mais aguardadas do ano: documentário de Kent Jones, um dos decanos da crítica americana, sobre o encontro Hitchcock/Truffaut e o livro resultante – um dos melhores, e mais inevitáveis, livros de cinema alguma vez publicados.

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Uma das estreias mais aguardadas do ano: documentário de Kent Jones sobre o encontro Hitchcock/Truffaut e o livro resultante

É um dos melhores,  e mais inevitáveis, livros de cinema alguma vez publicados:  Le Cinéma Selon Hitchcock, ou no título da velha edição portuguesa da Dom Quixote, Hitchcock – Diálogo com Truffaut. Foi o resultado de uma semana de conversas gravadas, sucedida em Los Angeles em 1962, entre o muito jovem ex-crítico francês (Truffaut tinha 30 anos), recém-passado à realização, e o veterano cineasta de origem britânica (Hitchcock tinha 63 anos e estava no auge da fama). O encontro, lendário, resultou num livro que passa a pente fino a obra de Hitchcock e as suas ideias sobre o cinema em geral, e ficou como o momento em que Hitchcock mais aberta e longamente se revelou, na primeira pessoa, como artista e como homem. Para espanto de muitos comentadores, fê-lo perante um jovem francês, que se já era “Truffaut” ainda não era o Truffaut consagrado e institucionalizado de uma década mais tarde.

Claro que Hitchcock sabia quem tinha pela frente. Truffaut e os seus colegas da nouvelle vague tinham passado a década de 50, nas páginas dos Cahiers du Cinéma, a impor Hitchcock e outros cineastas americanos como artistas geniais muito para além do potencial de “entretenimento” dos seus filmes. Há  também este simbolismo, o encontro presencial dos jovens franceses da nouvelle vague (como depois Godard com Lang, por exemplo, e em simultâneo a expedição a Hollywood de dois jovens críticos, Serge Daney e Louis Skorecki, para gravarem conversas com os veteranos realizadores americanos) com os seus ídolos americanos, para encetarem um trabalho de “história oral” que depois teria a continuação, entre outros, de Peter Bogdanovich, protótipo do “cinéfilo americano”, através do seu trabalho com John Ford ou Orson Welles.

Vem a isto a propósito de uma das estreias mais aguardadas do ano. Um documentário de Kent Jones, um dos decanos da crítica americana, sobre o encontro Hitchcock/Truffaut e o livro resultante – servindo-se das gravações (áudio e vídeo) da conversa, e dos depoimentos de vários cineastas, europeus e americanos (David Fincher e Olivier Assayas contam-se entre os participantes), sobre a influência da obra nas suas vidas cinéfilas. Estreia-se a 1 de Abril, e o trailer já pode ser visto na Internet.

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