Para alguns visitantes de Auschwitz, vaporizadores lembram câmaras de gás

O sistema de arrefecimento do ar, instalado à entrada do antigo campo de concentração, foi criticado por judeus israelitas por evocar os chuveiros nas câmaras de gás.

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Um popular programa de televisão israelita colocou esta imagem no seu Facebook no domingo. Dois dias depois, a fotografia tinha mais de mil comentários DR

Um sistema de arrefecimento do ar instalado à entrada de Auschwitz para aliviar os visitantes da vaga de calor que atingiu a Polónia foi considerado ofensivo por judeus israelitas que viram semelhanças com as câmaras de gás usadas pelos nazis naquele antigo campo de concentração.

A polémica irrompeu no fim-de-semana, depois de alguns media israelitas divulgarem fotografias tiradas em Auschwitz mostrando pessoas debaixo dos vaporizadores – mangueiras suspensas que esguicham microgotículas de água semelhantes a uma névoa de vapor. No domingo, Hatzinor (que significa “o cano”), uma popular rubrica do noticiário de uma televisão israelita que encoraja os espectadores a partilharem vídeos e fotografias, publicou uma imagem no seu Facebook de jovens desfrutando dos “chuveiros” de vapor, dizendo que ela tinha sido enviada por visitantes israelitas “que não gostaram do aspecto” dos mesmos, e convidando os seus seguidores a darem uma opinião. Até quarta de manhã, o post tinha mais de mil comentários, muitos deles num tom de indignação.

“O que se segue? Fornos que aquecem no Inverno?”, escreveu um homem.

“Também há comboios na Polónia”, escreveu outro.

O Memorial e Museu de Auschwitz defendeu os aspersores num comunicado no seu Facebook, dizendo que se trata de uma medida temporária para minimizar o calor elevado que tem afectado a Polónia, onde as temperaturas no fim-de-semana chegaram a atingir os 40 graus. “Os aspersores são colocados nos dias de maior calor e removidos quando a temperatura cai.”

O sistema de arrefecimento foi instalado na entrada de Auschwitz, na área da bilheteira, onde é comum formarem-se filas. “É um lugar exposto ao sol, sem qualquer possibilidade de abrigo na sombra, onde por vezes as pessoas têm de esperar bastante tempo, já que recebemos milhares de visitantes todos os dias”, lê-se no comunicado.

Mais de um milhão de pessoas visitaram Auschwitz só este ano, um recorde no período em questão.

 “Alguns dos nossos visitantes vêm de países onde não se registam temperaturas tão elevadas como temos tido este Verão na Polónia”, diz o comunicado do museu, notando que tem havido casos de desmaios e que “era preciso fazer alguma coisa”.

Auschwitz foi o maior campo de concentração e centro de extermínio nazi durante a II Guerra Mundial. Foi ali que os alemães apuraram o método das câmaras de gás, em que as vítimas eram levadas para salas com falsos chuveiros e gaseadas com Zyklon B, um pesticida.

Estima-se que mais de um milhão de judeus morreram só em Birkenau, o maior dos campos do complexo de Auschwitz.

Meir Bulka, um israelita que visitou Auschwitz no domingo, disse ter ficado chocado quando viu os aspersores assim que chegou no local. “Para um judeu que perdeu tantos familiares no Holocausto, eles parecem os chuveiros de duche que os judeus foram forçados a tomar antes de entrar nas câmaras de gás”, disse ao Jerusalem Post.

Mas a direcção de Auschwitz notou, no seu comunicado, que os aspersores evaporativos não são parecidos com chuveiros de duche que “os falsos chuveiros instalados pelos alemães em algumas das câmaras de gás não eram usados para lançar gás”. “O Zyklon B era introduzido nas câmaras de gás de outra forma – através de orifícios no tecto ou nas paredes”.

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