Parlamento retira imunidade a Presidente da Guatemala acusado de corrupção

Otto Pérez insiste em não se demitir. Após a decisão inédita do Parlamento, a justiça proibiu-o de sair do país.

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"Bem vindo a Pavon", diz o cartaz, referindo-se à maior prisão da Guetemala Johan Ordonez/

Chovia torrencialmente, mas mesmo assim mais de mil pessoas festejaram nas ruas da Cidade da Guatemala a decisão do Parlamento, que na terça-feira, retirou a imunidade ao Presidente Otto Pérez, acusado de corrupção. Há meses que a população exigia a sua demissão e punição - para já, pode manter-se no cargo, mas com o início da investigação à sua conduta pode ser substituído ou detido se a justiça o ordenar.

Através do seu porta-voz, Jorge Ortega, o Presidente fez saber que não se demite e que vai "enfrentar" este processo. Pérez mantém a frase que proferiu há dias: "Posso garantir-vos: não recebi um cêntimo desta estrutura fraudulenta".

Otto Pérez, um general na reserva de 62 anos, está no cargo desde 2012. Foi acusado, pela justiça guatemalteca e por uma comissão das Nações Unidas, de participação num esquema de corrupção ligado às alfândegas, através do qual os funcionários recebiam subornos para isentar de impostos algumas importações. A investigação ao caso já levou à prisão da vice-presidente, Roxana Baldetti.

Numa reacção inédita no país, a sua demissão foi exigida por todos os sectores da sociedade: a população, que durante meses realizou manifestações de protesto, a confederação patronal, a Igreja Católica, os professores, os estudantes, a procuradora-geral e a Comissão Internacional Contra a Impunidade na Guatemala, um organismo criado com a ONU para investigar e levar à justiça crimes graves cometidos naquele país da América Central.

O Parlamento cedeu finalmente e, na terça-feira, eram quatro e meia da tarde na Guatemala (23h30 em Lisboa), aprovou o fim da protecção judicial de que beneficiam os chefes de Estado a Otto Pérez; 132 dos 158 deputados votaram a favor.

Na sequência desta decisão inédita no país, a justiça emitiu uma primeira ordem e proibiu o Presidente de sair do país. "Há o risco de a possibilidade de ele abandonar o país", disse a procuradora-geral, Thelma Aldana, sublinhando que Pérez é agora "um cidadão normal perante o sistema judiciário ainda que continue a ser Presidente".

"É uma vitória do povo da Guatemala perante a anarquia que reina no país", disse à AFP Morel Villatoro, um reformado que saiu à rua. Os manifestantes juntaram-se, primeiro, em frente ao Parlamento e desfilaram depois até ao centro da cidade, tocando trompetas e batendo panelas.

"Depois de quatro meses de luta, o povo da Guatemala reencontra a esperança e vê o Parlamento reagir finalmente contra um Presidente que não escutou o povo", disse Mario Taracena, deputado social-democrata.

 

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