Um bebé palestiniano morreu queimado por vingança de colonos judeus

Netanyahu fala em "atentado terrorista" e promete levar autores a responder na justiça. Autoridade Palestiniana diz que é um crime de guerra e promete enviar queixa para o Tribunal Penal Internacional.

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O funeral de Ali Dawabshe realizou-se já esta tarde Ammar Awad/REUTERS
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Após o incêndio Abed Omar Qusini/Reuters

Ali Dawabshe, um bebé palestiniano de 18 meses morreu queimado porque colonos israelitas extremistas incendiaram a casa onde estava a dormir, na Cisjordânia ocupada. Os seus pais e irmão de quatro anos ficaram feridos com gravidade e os atacantes deixaram escrita a palavra “vingança”, sobre uma estrela de David, num muro ao lado da casa. O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu classificou o ataque como “terrorismo” e telefonou ao presidente da Autoridade Palestiniana, com quem raramente fala. Mas a violência rebentou ao final do dia.

“Isto é um ataque terrorista. Israel reage com dureza contra o terrorismo, sejam quais forem os autores”, afirmou Netanyahu. “Devemos lutar juntos contra o terrorismo, venha de que lado venha”, disse o dirigente israelita por telefone a Mahmoud Abbas. “Dei ordens às forças de segurança para que usem todos os meios à sua disposição para prenderem os assassinos e conduzi-los à justiça”, anunciou o primeiro-ministro num comunicado.

O Eexército reforçou o patrulhamento na zona de Duma, uma aldeia perto de Nablus, e foi desencadeada uma operação especial da polícia e dos serviços de segurança, o Shin Bet. O tenente-coronel Peter Lerner, porta-voz militar israelita, designou o atentado “como nada menos do que um bárbaro acto de terrorismo.”.

Este é o ataque mais grave de extremistas judeus desde que um jovem palestiniano foi queimado vivo há cerca de um ano em Jerusalém — o primeiro de uma série de acontecimentos que levaram à ofensiva israelita em Gaza no Verão passado.

Tanto as forças de segurança de Israel como as palestinianas ficaram em alerta máximo, temendo represálias. A polícia restringiu o acesso à mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém a menores de 50 anos, para as orações de sexta-feira, e em vários locais patrulhas foram apedrejadadas por palestinianos. Em Ramallah, a polícia disparou contra um homem que atirou uma bomba incendiária e este ficou gravemente ferido.

Enquanto o Hamas está a apelar a ataques de retaliação — “todos os israelitas se tornaram agora um alvo legítimo”, diz uma mensagem tornada pública —, a Autoridade Palestiniana anunciou que vai relatar este caso ao Tribunal Penal Internacional, como prova de crimes de guerra cometidos pelo Estado hebraico. “Um crime como este não teria ocorrido se o Governo israelita não insistisse em continuar com os colonatos”, acusou Nabil Abu Rdainah, um porta-voz do presidente Abbas.

O relato deste ataque foi feito por vizinhos da família Dawabshe que dizem ter visto dois homens mascarados junto à casa incendiada, que desapareceram pouco depois. “Encontrámos os pais cá fora, queimados, disseram que tinham um filho dentro de casa, trouxemo-lo para fora e depois disseram-nos que havia outro menino, mas não conseguimos chegar ao quarto por causa das chamas. Ele ficou lá dentro até a ajuda chegar”, contou Musallam Dawabasha, de 23 anos. Outras testemunhas, citadas pelo New York Times, falam em quatro homens. Outros ainda dizem ter visto os atacantes a atirar bombas incendiárias para o interior da casa. 

O “preço a pagar”

O que se passou em Duma é visto como uma vingança de extremistas por tentativas de controlar a expansão dos colonatos na Cisjordânia ocupada. Na quarta-feira, as autoridades israelitas demoliram duas estruturas ilegais no colonato de Bei El, perto de Ramallah, e retiraram dezenas de pessoas de outro colonato próximo de Nablus. Mas em breve começarão a ser construídas casas para colonos israelitas noutros locais, prosseguindo a luta pela terra que opõe israelitas e palestinianos há décadas. “O que vimos esta semana em Bei El foi um caso isolado, uma espécie de show”, disse ao El País Sarit Michaeli, porta-voz da ONG B’Tselem. Segundo esta organização, os colonatos em territórios palestinianos ocupados — ilegais, à luz da lei internacional — continuam a avançar, e já ultrapassam 350 mil na Cisjordânia, e 200 mil em Jerusalém Oriental.

Este não é o primeiro ataque de colonos israelitas. A Organização de Libertação da Palestina contabiliza 369 ataques sofridos desde o início do ano até 27 de Julho, diz o The Guardian. Estes incluem intimidação e perseguição, destruição e roubo de oliveiras, envenenamento de poços, arremeço de pedras, tiros contra pessoas e propriedade, agressões físicas e verbais e vandalismo. De acordo com a ONU, citada pela Al-Jazira, há pelo menos 120 ataques documentados desde o início de 2015 de colonos israelitas contra palestinianos na Cisjordânia.

Luba Samri, a porta-voz da polícia israelita, reconheceu que este terá sido um atentado conhecido como “preço a pagar” — agressões e actos de vandalismo que há anos são praticadas por colonos contra palestinianos e árabes israelitas, ou até mesmo cristãos. A esmagadora maioria destes actos nunca é punida.

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