Daqui a 40 anos, a Grécia ainda estará a pagar os empréstimos da troika

Amortizações de dívida à UE e ao FMI ascendem a 233.700 milhões de euros. Reembolsos só terminam em 2054. Portugal estará a pagar aos credores oficiais até 2042.

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Os dois empréstimos à Grécia totalizam 240 mil milhões de euros LOUISA GOULIAMAKI/AFP

Se nada mudar nas condições em que a Grécia tem de reembolsar a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI), Atenas vai enfrentar nos próximos 40 anos picos de amortização ininterruptos para pagar os 240 mil milhões de euros emprestados pelos credores oficiais nos dois resgates financeiros, de 2010 e 2012. O calendário de pagamentos só acaba em 2054 (12 anos depois de terminar o período de reembolsos de Portugal à troika, cujo empréstimo é um terço dos resgates gregos).

Seja no imediato, seja no longo prazo, o período de reembolsos que se avizinha é exigente para uma economia que em cinco anos perdeu um quarto do seu valor e continua sem acesso ao financiamento de mercado. Entre pagamentos ao FMI, ao Banco Central Europeu (BCE), ao Banco Europeu de Investimento, aos parceiros da zona euro e ao Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), cujas atribuições foram assumidas pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade, o valor da dívida a amortizar chega aos 233.700 milhões de euros. Isto sem contar com o montante dos títulos de dívida pública detidos por investidores privados, cujas amortizações se cruzam com os reembolsos à troika.

O pagamento dos dois empréstimos à Grécia (o primeiro, de 110 mil milhões de euros, acordado em 2010, e o segundo, de 130 mil milhões, negociado em 2012) termina dentro de 39 anos. As amortizações anuais previstas para as década de 2020, 2030 e 2040 são tão ou mais exigentes quanto os pagamentos que se avizinham para os anos mais próximos.

Só este ano, Atenas tem de reembolsar 11.900 milhões de euros (contando com a fatia de 1544 milhões de euros que ficou por pagar ao FMI na terça-feira). Sem acesso ao financiamento de mercado e sem dinheiro suficiente para satisfazer as necessidades de liquidez (seja para assumir os compromissos internos, seja para pagar à troika), o país continua sob pressão nos anos seguintes: tem 5600 milhões para amortizar em 2016, mais 6000 milhões em 2017, mais 3700 milhões em 2018, mais 7900 milhões em 2019, mais 4200 milhões em 2020, mais 4200 milhões em 2021... Em alguns períodos, os reembolsos chegam mesmo a superar de forma consecutiva os 6000 milhões de euros (acontece entre 2022 e 2024) e os 7000 milhões de euros (acontece de 2034 e 2039).

A Grécia é o país da zona euro com o maior nível da dívida, de 177% do PIB. Para o FMI, as necessidades de financiamento até 2018 ascendem a 50 mil milhões de euros, o que tornará a dinâmica da dívida insustentável. Somando “as novas necessidades de financiamento” a uma dívida que ascende a 317 mil milhões de euros, isso tornará “a dinâmica da dívida pública insustentável”, alertou o FMI na semana passada, quando divulgou o seu relatório preliminar com uma análise à sustentabilidade da dívida helénica.

Cinco países, seis “resgates”
Para os outros países que receberam empréstimos da troika (Irlanda, Portugal, Espanha e Chipre), a pressão dos reembolsos de dívida também é significativa, mas coloca-se com menos intensidade, desde logo porque a dimensão dos resgates é menor e porque os países conseguem emitir dívida pública no mercado, o que não acontece com a Grécia.

No caso de Portugal, o calendário dos reembolsos à troika estende-se até 2042 e o valor a amortizar totaliza 74.200 milhões de euros, assumindo já a extensão de maturidades dos empréstimos europeus que vencem até 2022 e o pagamento antecipado de metade do empréstimo do FMI.

A simulação feita pela Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP) já assume estes pressupostos, prevendo-se um pagamento de cerca de 1000 milhões de euros ao FMI em 2017. Isto não significa que Portugal esteja livre de pressão até essa altura. É que embora não tenha, até aí, pagamentos relacionados com os empréstimos oficiais, o Tesouro português tem amortizações exigentes de títulos de dívida de médio e longo prazo. Este ano, em Outubro, há para amortizar cerca de 5500 milhões de euros e no próximo ano a parada sobe a 7420 milhões de euros.

Espanha, que recebeu 41 mil milhões de euros para o sector bancário, só começa a reembolsar o Mecanismo Europeu de Estabilidade dentro de sete anos. No entanto, tal como Portugal decidiu pagar de forma antecipada uma parte do empréstimo ao FMI, Espanha também já decidiu avançar com uma parte do reembolso, tendo pago 1304 milhões de euros em Julho do ano passado e 3112 milhões em Março último.

No caso da Irlanda, cujo empréstimo ascendeu aos 85 mil milhões de euros, os reembolsos ascendem este ano aos 4800 milhões de euros, seguindo-se, para já, 3800 milhões de euros. Chipre já recebeu da zona euro 5700 dos dez mil milhões de euros do empréstimo europeu e do FMI, começando a reembolsar os credores oficiais apenas em 2025. Com Raquel Almeida Correia


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