Procura interna continua a dar o maior contributo para a retoma

INE confirmou manutenção da retoma da economia, com ligeira revisão em alta da variação homóloga do PIB no primeiro trimestre.

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Consumo privado está a recuperar em Portugal José Manuel Ribeiro/Reuters

A retoma da economia portuguesa continua a ser baseada mais na procura interna do que nas exportações líquidas, mostram os dados publicados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Os valores relativos à evolução do PIB no primeiro trimestre do ano vieram confirmar, com uma ligeira revisão em alta, a manutenção de uma tendência de retoma na economia portuguesa, que já tinha sido anunciada pelo INE quando divulgou a sua estimativa rápida do PIB há duas semanas. Nos primeiros três meses de 2015, registou-se um crescimento de 0,4%, o que colocou a taxa de variação homóloga em 1,5% (na estimativa rápida inicial, o INE tinha apontado para um valor de 1,4%).

O que os números agora publicados pelo INE mostram de novo é como é que a economia cresceu, ou seja, quais foram as componentes do PIB que contribuíram de forma mais positiva e mais negativa para a evolução da economia. Assim, o crescimento de 0,4% registado no primeiro trimestre teve um contributo positivo de 1,3 pontos percentuais da procura interna (consumo privado e público e investimento), que foi contrabalançado por um contributo negativo de 0,9 pontos percentuais da procura externa líquida (exportações menos importações).

O consumo privado cresceu 0,8% nos primeiros três meses do ano e o investimento acelerou para 5,3%. Por outro lado, o primeiro trimestre do ano não foi positivo para as exportações, que caíram 0,3% (a primeira queda desde o primeiro trimestre de 2014). Registou-se ainda um aumento de 2% das importações, um resultado previsível tendo em conta a subida registada no consumo e no investimento, dois indicadores com uma componente importada significativa.

Em comparação com o primeiro trimestre de 2014, que tinha sido especialmente negativo para as exportações por causa da paragem da refinaria da Galp em Sines, o padrão dos contributos para o crescimento económico é diferente, mas continua a mostrar uma predominância da procura interna face às exportações líquida. O crescimento de 1,5% é explicado na sua totalidade pelo contributo de 1,5 pontos percentuais da procura interna, uma vez que o contributo da procura externa líquida foi nulo, com as exportações a anularem o efeito das importações.

Em termos homólogos, o crescimento do consumo privado foi de 2,5%, uma aceleração face aos 2% do trimestre anterior, ao passo que o investimento registou uma variação nula face ao ano passado, o pior resultado desde o quarto trimestre de 2013. As exportações aceleraram, crescendo 6,8% face ao período homólogo do ano anterior e superando a variação de 6,6% registada nas importações.

Os resultados do primeiro trimestre mostram assim que a economia portuguesa continua  a beneficiar de uma retoma do consumo privado  e do investimento, que durante a crise tinham registado quebras muito acentuadas. Este fenómeno tem consequências imediatas na evolução das importações, que ainda assim têm conseguido ser na maior parte das ocasiões compensadas pelo crescimento das exportações.

Entidades internacionais como o FMI ou a Comissão Europeia têm alertado para o risco de um crescimento baseado excessivamente na recuperação da procura interna poder não ser sustentável, tendo em conta os elevados níveis de endividamento que foram acumulados na economia nas décadas anteriores.

O Governo, contudo, prevê que a economia continue a recuperar sem que se registe um regresso aos défices externos (em 2014 Portugal registou um excedente), já que aponta para um cenário em que o crescimento das exportações se mantenha a um nível superior ou idêntico ao das importações.

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