Condutor que matou cinco peregrinos constituído arguido

Automóvel despistou-se de madrugada em Cernache, Coimbra, atingindo mortalmente dois escuteiros adolescentes e três adultos

O condutor do automóvel que este sábado de madrugada se despistou e atropelou nove peregrinos no IC2, em Cernache, Coimbra, provocando a morte de cinco deles, foi constituído arguido e vai ser ouvido em tribunal na segunda-feira.

De acordo com o comandante do Destacamento de Trânsito da GNR de Coimbra, capitão Sandro Oliveira, o homem, com cerca de 25 anos, “foi constituído arguido, prestou termo de identidade e residência e foi notificado para comparecer em tribunal” para ser ouvido por um juiz e determinação de eventuais medidas de coacção.

As vítimas, dois adolescentes e três adultos, integravam um grupo de 80 peregrinos, da zona de Mortágua, quando pelas 4h da manhã "nove foram colhidas, quatro faleceram no local e uma morreu a caminho do hospital", contou fonte dos bombeiros. Além dos cinco mortos há cinco feridos, três dos quais em estado grave. Foram transportados para os Hospitais de Coimbra.

O alerta para o atropelamento foi dado às 4h da manhã deste sábado. A viatura entrou em despiste, atravessou a estrada para o lado contrário e o grupo foi colhido, apesar dos coletes reflectores e das lanternas que levavam para se fazerem ver. Seguiam no sentido Coimbra/Condeixa, o mesmo que o automóvel, que os apanhou por trás. 

De acordo com a GNR, as cinco vítimas mortais têm entre os 17 e os 53 anos. O padre António Correia Alves, da paróquia de Mortágua, contou ao PÚBLICO que entre elas estão dois rapazes, de 16 e 17 anos, que pertenciam a um grupo de escuteiros da mesma localidade cuja missão era ajudar os peregrinos. Tinham-se todos levantado uma hora antes, para aproveitarem o fresco da madrugada para a caminhada, e estavam a começar o segundo dia de peregrinação quando tudo aconteceu. 

O comandante dos bombeiros de Condeixa, Fernando Gonçalves, explicou ao PÚBLICO que, apesar de o acidente se ter dado num ponto considerado negro pela Estradas de Portugal não terá sido isso a provocar o despiste, uma vez que a sinistralidade costuma ter lugar no sentido ascendente, Condeixa-Coimbra, e neste caso deu-se no sentido descendente. "Pelo facto de se tratar de um ponto negro, a Estradas de Portugal suprimiu uma das faixas, para criar mais condições de circulação para os peregrinos", acrescenta. Foi precisamente nesta "caixa de segurança" devidamente assinalada, como lhe chama o comandante, que as vítimas foram apanhadas, entre duas curvas, por um Audi antigo, conduzido por um imigrante de Leste residente na zona. O automobilista, que entrou em contramão antes de atropelar o grupo, apenas sofreu ferimentos ligeiros - “uma luxação num dedo de uma mão e pequenas escoriações”, segundo informações prestadas pela GNR.

Feridos estáveis
Quatro feridos foram transferidos para os Hospitais da Universidade de Coimbra e um para o Hospital Pediátrico, acrescentou. Este último é um jovem de 16 anos, que, ao final da manhã, estava "clinicamente estável" , revelou fonte dos hospitais à Lusa.

Entre os doentes encontra-se “uma mulher de 23 anos com fracturas dos membros inferiores e de um membro superior" que foi submetida a uma cirurgia; um homem de 71 anos e um de 64 anos que “são politraumatizados e estão clinicamente estáveis”; e "um outro homem de 24 anos que está clinicamente estável e prevê-se que tenha alta" ainda este sábado.

Na missa das 11h deste sábado, o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, lembrou as vítimas mortais e os feridos deste acidente, e pediu orações pelos seus familiares. “Na eucaristia deste dia vamos ter particularmente presentes as cinco vítimas mortais do acidente desta madrugada em Cernache, pedir pelos quatro feridos graves que se encontram no hospital”, rezou Carlos Cabecinhas que pediu também aos fiéis para rezar pelos familiares das vítimas que “vivem um momento de dor e se interrogam sobre o porquê de um momento assim”.

Três dias de luto em Mortágua
A Câmara de Mortágua, no concelho de Viseu, decretou três dias de luto pelos peregrinos que pertenciam àquele município. Também várias associações cancelaram actividades que tinham previstas para estes dias. "Isto é o momento mais negro que um autarca com mais de 20 anos [de funções] pode ter na vida. É uma tragédia que se abateu sobre um grupo de amigos, todos se conhecem", afirmou José Júlio Norte à Lusa.

O autarca deslocou-se de Mortágua ao local do acidente, logo após o sucedido e testemunhou a "violência" do embate, na sequência do despiste do automóvel ligeiro, que seguia a velocidade, diz. Junto à igreja de Mortágua concentraram-se dezenas de pessoas, a meio da manhã deste sábado, para receber o grupo de peregrinos que regressou a casa, em dois autocarros, depois de ter sido acolhido nas instalações dos bombeiros voluntários de Condeixa-a-Nova.

Já na sexta-feira tinham sido atropeladas duas peregrinas na localidade de Águas Férreas, na freguesia de Pombal, também por um automóvel que se despistou.
 
GNR aconselha peregrinos a evitar esta estrada
A GNR aconselha os peregrinos a trocar o IC2 por outras estradas menos movimentadas, de forma a correrem menos riscos. Na via onde sucedeu o acidente a velocidade máxima, de 90 km/hora, é muito superior à da antiga Estrada Nacional 1, por onde os caminhantes também podem circular, explica comandante do Destacamento de Trânsito da GNR de Coimbra, o capitão Sandro Oliveira. O mesmo responsável lembra que, além de envergarem roupa e de usarem lanternas que lhes permitam manter-se visíveis mesmo à noite, podem ainda, quando planeiam o itinerário, verificar quais são os pontos de circulação mais perigosos, para se desviarem deles, e, em caso de grupos grandes, avisar antecipadamente as autoridades de onde vão passar e a que horas, por forma a que a PSP ou a GNR lhes possam prestar acompanhamento, aumentando assim a segurança.

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