Alvalade e Avenidas Novas são as freguesias de Lisboa com mais atropelamentos

Câmara de Lisboa estudou os acidentes com peões entre 2010 e 2013. Uma em cada quatro vítimas de atropelamento estava a atravessar numa passagem de peões sem semáforos.

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Nesta segunda-feira assinala-se o Dia Europeu da Segurança Rodoviária Pedro Cunha/Arquivo

As freguesias de Alvalade, Avenidas Novas, Arroios e Benfica foram aquelas em que se registaram, entre 2010 e 2013, mais atropelamentos em Lisboa. Nesses quatro anos, houve 2746 peões atropelados no concelho, 27 dos quais faleceram em resultado do acidente.

Estes são alguns dos dados que constam do Relatório sobre os Atropelamentos na Cidade de Lisboa 2010 - 2013, elaborado pela equipa do Plano de Acessibilidade Pedonal da Câmara de Lisboa. No documento, ao qual o PÚBLICO teve acesso, é feita uma caracterização das vítimas e das circunstâncias em que ocorreram esses atropelamentos, a partir de dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária e da Polícia de Segurança Pública.

O relatório arranca com uma constatação positiva: a de que num período de dez anos, entre 2004 e 2013, houve uma “tendência geral para o decréscimo do número de vítimas de atropelamento”. Depois de ter sido superior a 800 nos três primeiros anos, o número de atropelamentos no concelho tem vindo a cair, tendo-se fixado em 670 no último ano em estudo. Um valor que, sublinha-se no relatório, corresponde “a mais de 12% do total nacional”.  

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Restringindo a análise aos últimos quatro anos daquele período, verifica-se que houve 2746 peões atropelados em Lisboa. A maioria sofreu ferimentos sem gravidade, mas houve 180 vítimas graves e 27 mortais.

Em termos etários, foi no escalão dos 20 aos 24 anos que houve mais ocorrências. Logo depois vêm os escalões dos 15 aos 19 anos e dos 75 aos 79 anos. Em todos os casos, as vítimas de atropelamento são sobretudo mulheres.

Mas a realidade dos idosos, que representam quase 30% do total das vítimas, merece destaque para a equipa do Plano de Acessibilidade Pedonal. Trata-se de um grupo "especialmente vulnerável”, na medida em que “um em cada dez idosos teve ferimentos graves ou mortais, enquanto que o peso relativo correspondente nos adultos é de 7% e nos jovens é de 6%”.

E em que circunstâncias ocorreram os atropelamentos? Segundo o relatório, em cada um dos quatro anos em análise os peões que foram atropelados quando atravessavam em zebras (passagens de peões sem semáforo) representaram sempre 25% ou mais do total.

O segundo lugar na tipologia de atropelamentos é ocupado pelos peões que atravessavam fora da passagem de peões, a menos de 50 metros dela, e em terceiro lugar surgem os acidentes ocorridos quando as vítimas circulavam ao longo da via, sem intenção de a atravessar, “talvez por impedimentos de circular no passeio”.

Relativamente à distribuição mensal dos atropelamentos, a equipa do Plano de Acessibilidade Pedonal constatou que foi em Junho, Julho e Agosto que houve menos acidentes e que Outubro e Dezembro foram os meses com mais ocorrências. E isto, sublinha-se no relatório, “apesar de apenas cerca de 13% dos atropelamentos terem ocorrido com chuva, vento forte ou nevoeiro”, ou seja, com “condições atmosféricas adversas”.

Quanto à distribuição dos atropelamentos por períodos do dia, verificou-se que foi entre as 18h e as 19h que mais peões foram atropelados e que foi entre a meia-noite e as 5h que houve menos acidentes. Ainda assim, fazendo uma análise circunscrita às vítimas mortais, constata-se que o período mais negro em termos de atropelamentos com consequências fatais foi entre as 5h e as 6h.   

Olhando para as 24 freguesias de Lisboa, verifica-se que Alvalade, Avenidas Novas, Arroios e Benfica lideram o indesejável ranking dos atropelamentos. Já no fim da tabela surgem Beato, Ajuda, Santa Clara e São Vicente. Em relação à freguesia do Parque das Nações é de notar que os acidentes que ocorreram na parte do seu território que antes era de Loures e pertence agora a Lisboa não foram contabilizados.

O vereador dos Direitos Sociais da câmara sublinha, em declarações ao PÚBLICO, a importância deste relatório, que permite ir para além do conhecimento que cada um tem ou julga ter do que se passa na sua rua, contribuindo para que se tenha “uma visão real da cidade”. “Para perceber que tipo de intervenções devemos fazer” e “onde são mais prioritárias”, explica João Afonso.

“Todos nós somos peões”, lembra o autarca eleito pelo movimento Cidadãos por Lisboa, acrescentando que “é um direito” de todos andarem a pé e sentirem-se “seguros” quando o fazem. “Não ter medo de sair à rua e andar nela com alegria” é exactamente o mote da conferência sobre acalmia de tráfego que a Câmara de Lisboa promove esta segunda-feira, data em que se assinala o Dia Europeu da Segurança Rodoviária.

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