Os donos da PT Portugal gostam de decisões ágeis e resultados rápidos

O modelo de gestão da Altice assenta em equipas pequenas, conhecedoras do negócio, e rápidas a alcançar resultados. Em Portugal não será diferente.

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Patrick Drahi, líder do grupo Altice REUTERS/Philippe Wojazer

Na recém-criada Numericable SFR as equipas de gestão são pequenas, os processos de decisão são curtos e os resultados rápidos, garantiu o presidente executivo da operadora, Eric Denoyer, num encontro com jornalistas portugueses, na sede da empresa, em Saint-Denis. A filosofia de gestão seguida na empresa dos novos donos da PT Portugal dá pistas para o que irá acontecer nas Picoas, assim que a gestão escolhida pelos líderes da Altice assumir as rédeas do negócio.

Em Novembro do ano passado, a Altice fechou a compra da SFR e num ápice ocupou a sede da operadora móvel em Saint-Denis, nos arredores de Paris. Aos comandos da equipa de gestão da nova empresa (a segunda maior operadora móvel do mercado francês e líder em convergência fixo-móvel, com a maior rede de fibra óptica do país) ficou Eric Denoyer, que há quase uma década liderava a Numericable, a operadora de cabo fundada por Patrick Drahi (o rosto da Altice). A acompanhá-lo, outros nove gestores (sete vieram da Numericable e apenas dois ficaram da SFR).

A estratégia utilizada para ultrapassar o choque de culturas empresariais (e a resistência dos quadros da SFR, depois de terem saído várias dezenas de pessoas dos lugares de topo) espelha o estilo de gestão, muito operacional e sem contemplações, do grupo liderado por Drahi e pelo português Armando Pereira: “A primeira coisa que fizemos foi criar projectos em que as pessoas têm de trabalhar juntas”, contou o presidente executivo do grupo (CEO). “Em vez de falar de estruturas e organizações peço acção e os projectos já começaram a dar resultados”, disse o gestor. “As pessoas da SFR podem dizer que vamos depressa demais e que há uma grande mudança, mas já há resultados quer ao nível financeiro, quer ao nível de produto, e somos mais eficazes ao nível da estratégia comercial”, garantiu.

Sem querer desvendar números, Denoyer garante que as contas trimestrais, que serão apresentadas a 12 de Maio, já deixarão antever algumas sinergias alcançadas com a fusão. As sinergias são a peça central da estratégia, de modo a libertar capital para investir, e o objectivo é atingir mil milhões de euros por ano. “Antes de três anos queremos chegar a este valor”, revelou.

Aos comandos da empresa (que segundo os dados proforma da Altice representava receitas de 11,4 mil milhões de euros em 2014) estão mais nove administradores e rodos eles têm uma área específica. Comandam equipas de dez pessoas, cujos membros por sua vez comandam outras equipas de dez pessoas. “São três níveis de decisão para pilotar a companhia de forma mais eficiente, de modo a sermos mais rápidos a reagir”, diz Eric Denoyer.

Da rotina semanal fazem ainda parte reuniões por videoconferência com Drahi e Dexter Goei (o CEO da Altice) onde a estratégia é permanentemente afinada. Este é um modelo seguido em todas as empresas da Altice. Deverá por isso ser replicado na PT Portugal, onde Armando Pereira já disse que a estrutura de gestão é “demasiado pesada”. Ainda não se sabe quem comandará a nova PT Portugal, apesar de fontes do mercado apontarem o actual administrador responsável pelo segmento de consumo (MEO) Pedro Leitão como o preferido do novo accionista, estando inclusive em processo de negociações das novas funções. Se for esse o caso, isso representará a saída de cena de Armando Almeida, eleito presidente da PT Portugal em Agosto do ano passado.

Na imprensa francesa, os ecos do descontentamento dos fornecedores são frequentes e algumas das empresas avançaram mesmo para um processo de mediação de litígios através de um organismo governamental. Em causa estão queixas como o não pagamento dos serviços e cortes de 20% a 30% no valor dos contratos (semelhantes às que se ouviram quando a a Altice comprou a Oni e a Cabovisão). Fonte próxima da empresa admite que as revisões de milhares de contratos “geraram algum descontentamento”, mas garante que “a maioria dos temas já está ultrapassada”. E que os fornecedores franceses da Numericable SFR estão entusiasmados com a perspectiva de trabalhar com a Altice em Portugal.

Em Saint-Denis, onde já trabalham quatro mil pessoas e em breve trabalharão mais outras quatro mil (num segundo edifício, em construção), a combinação acelerada das equipas deu-se com a criação de 15 projectos em áreas transversais ao grupo: integração das redes e call centers, alteração das linhas de produto; da reorganização do parque de 900 lojas do grupo,  desenvolvimento de novos serviços para travar a descida de preços do mercado… “Tenho um puzzle e devo criar valor”, resume Denoyer. A jornalista viajou a convite da Altice

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