Estudo encontra refeições escolares com sal a mais

Estudo do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge analisou 36 refeições nas escolas. Em 69% dos pratos analisados, o valor energético das refeições estava abaixo do recomendado.

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O objectivo do Governo é chegar a três milhões de portugueses Manuel Roberto/Arquivo

Sal e proteínas a mais, mas um valor energético insuficiente. Estes foram alguns dos problemas encontrados nas refeições servidas nas escolas a crianças do 1.º ciclo do ensino básico, de acordo com um estudo feito pelo Departamento de Alimentação e Nutrição do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (Insa). Em 69% dos pratos analisados, o valor energético das refeições estava abaixo do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas, pelo contrário, 90% das refeições tinham mais de metade da quantidade de sal que as crianças deveriam ingerir num dia inteiro.

O estudo O valor nutricional de refeições escolares, agora publicado no boletim epidemiológico Observações, analisou um total de 36 refeições de 36 escolas do 1.º ciclo do ensino básico na área metropolitana de Lisboa. “Em cada visita foi recolhida uma refeição, tal como era fornecida aos alunos”, explicam os autores, que recolheram os dados do trabalho agora publicado no ano lectivo de 2012/2013. Cada refeição analisada incluía sopa, prato principal (carne ou peixe), acompanhamento como arroz, massa, batata ou leguminosas, acompanhamento de hortícolas ou salada, pão e uma sobremesa, que podia ser gelatina, fruta ou um produto lácteo.

Os investigadores compararam o que encontraram nas refeições com as recomendações internacionais para crianças dos seis aos dez anos e concluíram, ainda, que também a proteína presente nos pratos em metade dos casos “é superior ao valor de ingestão recomendado”.  Além disso, “os teores de gordura total e hidratos de carbono encontram-se abaixo dos valores de referência respectivamente em 50% e 36% das refeições analisadas”. No campo dos minerais, 75% das refeições conseguiam contribuir com mais de 50% da dose diária recomendada de zinco e potássio. Forneciam também 13% da dose de cálcio.

“Para gozar de boa saúde não é apenas suficiente satisfazer as necessidades energéticas do organismo. É preciso fornecer uma grande diversidade de substâncias, mesmo que algumas destas substâncias sejam necessárias em quantidades mínimas. Tem de atender-se não só ao valor calórico dos alimentos mas também ao tipo de nutrientes”, alertam. Os investigadores do Insa consideram que “face aos resultados obtidos podemos concluir da necessidade de as câmaras, serviços de saúde e empresas estabelecerem programas contínuos de vigilância nutricional das refeições servidas nos seus refeitórios, de forma a avaliar tendências, detectar desvios aos critérios estabelecidos, e implementar medidas atempadas que garantam a qualidade nutricional das refeições servidas”.

“Uma alimentação saudável e equilibrada é um factor determinante para ganhos em saúde. A qualidade e a quantidade de géneros alimentícios, sólidos ou líquidos, ingeridos em meio escolar têm um impacto enorme na saúde e bem-estar dos jovens. Efectivamente, é na escola que os jovens passam um elevado número de horas, sendo portanto aí que ingerem uma parte substancial de alimentos”, sublinha o trabalho.

O estudo destaca também algumas diferenças entre os países da União Europeia. Em todos os 28 Estados-membros, Noruega e Suíça há directrizes para a alimentação escolar, mas “as regras são de carácter voluntário em Espanha, Portugal, Itália, Irlanda, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Polónia, Noruega, Suíça e na Áustria, enquanto nos restantes países são de carácter obrigatório”.

Pais vão poder avaliar refeições
O estudo surge na mesma semana em que se assinalou o Dia Mundial da Saúde, altura em que o Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável da Direcção-Geral da Saúde lançou uma plataforma online para os pais poderem avaliar a qualidade das ementas servidas aos filhos nas escolas públicas.

plataforma está integrada no Sistema de Planeamento e Avaliação das Refeições escolares, que existe desde 2009 e que já permitia que os directores dos estabelecimentos e responsáveis pelas cantinas fizessem essa avaliação. Os pais vão poder aceder à ferramenta depois de registados e com uma password. Porém, o director do programa, Pedro Graça, admitiu que nesta fase os resultados não serão disponibilizados às escolas e que isso seria útil.

Ainda assim, acredita que os pais, ao verem as perguntas na plataforma, vão tomar mais consciência das exigências que hoje devem existir “desde o momento em que a comida entra na escola até ao momento em que é servida” e vão poder confrontar os estabelecimentos. “A ideia é que os pais possam saber se o que é servido nas escolas está de acordo com o preconizado pelas organizações internacionais e nacionais”, disse Pedro Graça na terça-feira, quando foi apresentada a plataforma.

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