Acrobacias com Almada Negreiros para celebrar 100 anos da revista Orpheu

A performance decorreu ao início da tarde no piso -1 da estação de metro da Trindade, no Porto.

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Maria João Gala
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Foi ao som de um tambor que começou al mada nada. Ao mesmo tempo, os Momentum Crew, um grupo de b-boys, actuavam com movimentos acrobáticos competindo num estilo de battle, três contra três. Esta quarta-feira, numa performance de cerca de dez minutos, foi apresentado um excerto da peça de Ricardo Pais num cenário diferente - o do metro da Trindade.

Os textos de Almada Negreiros, com especial destaque para Saltimbancos, serviram de mote para o criador de al mada nada, Ricardo Pais, conseguir juntar no mesmo espaço literatura, dança e música. “As latas amolgadas dos postes com bandeiras vermelhas só vermelhas do maillot dela a secar ao sol na praia”, começa a declamar o actor Pedro Almendra. Nesse primeiro momento, os b-boys Momentum Crew estão ainda parados, sem reacção.

Palavra atrás de palavra - com destaque para “Pum”, “Amarelo”, “Sol” -, frase atrás de frase, em ritmo acelerado, Pedro Almendra, caminha de um lado para o outro e chega a deitar-se no chão. Quando se cala, não é silêncio que se impõe. O percussionista Rui Silva continua a tocar o tambor e os Momentum Crew prosseguem com as suas acrobacias.

No fim da performance, Pedro Almendra explicou que decorar os textos foi um grande desafio e “um dos momentos mais difíceis” da sua carreira, tendo passado por alturas de "puro pânico”, apesar de nunca ter pensado em recusar o convite feito por Ricardo Pais. As dificuldades são admitidas pelo próprio criador que admite que o texto é “descomunal, dificílimo”.

Pedro Almendra conta que a personagem é muito complexa, passando por “vários estádios emocionais”. É vista na perspectiva do narrador, “nunca é Zora, nunca é os soldados, é a transmutação de todas as coisas pelas quais passa e diz”.

A “acção promocional”, como lhe chama Ricardo Pais, levou o teatro “para onde as pessoas passam” e serviu para testar a vontade dos transeuntes de pararem para ver, o que é “meio caminho andado para chegarem ao teatro”, onde a peça vai ser exibida de 11 a 19 de Abril. Esta iniciativa serviu ainda para assinalar o momento em que se celebram os 100 anos da publicação do primeiro número da revista Orpheu, onde Almada Negreiros foi um dos principais colaboradores. 

O texto é futurista e com muito pouca ordem na sintaxe. Apesar de ter sido escrito no início do século XX, o criador sublinha a sua “modernidade tremenda”, tentando transmiti-la também através dos movimentos dos Momentum Crew, reconhecendo a sua “fantástica disciplina e imensa elasticidade”.

Os movimentos arriscados do grupo tornam-se ainda mais complicados em palco, lembra Ricardo Pais. Aí são realizados numa rampa com cerca de 10% de inclinação, tornando o desafio ainda maior.

E “Pum!”. Terminou o espectáculo. Para já. Porque para os mais curiosos, al mada nada vai ser apresentado na próxima semana no Teatro Nacional São João, no Porto.

Texto editado por Ana Fernandes
 

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