Forças de Kiev também se afastam da frente de combate no Leste da Ucrânia

Exército movimenta artilharia pesada depois de 48 horas sem confrontos nem vítimas. Observadores da OSCE lamentam falta de informação das forças separatistas.

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Tropas ucranianas em pose para a foto antes de retirarem da linha da frente Gleb Garanich/Reuters

O Exército da Ucrânia começou a desmobilizar tropas e a retirar o seu armamento pesado da frente de combate das regiões de Donetsk e Lugansk, em observância dos termos do acordo de cessar-fogo assinado em Minsk que compromete igualmente as forças separatistas pró-russas no Leste do país, informou o ministério da Defesa.

Em comunicado, o Governo de Kiev disse que a recolha de todos os equipamentos de artilharia de calibre superior de 100 milímetros foi “um primeiro passo” para o cumprimento do acordo firmado no dia 12 de Fevereiro, e quase imediatamente posto em causa pelo avanço das forças rebeldes para tomar controlo da localidade de Debaltseve. Mas como notou, as tropas nacionais confirmaram o respeito pela trégua durante as 48 horas anteriores, em que não se registaram ataques nem vítimas.

Correspondentes da Reuters assistiram às movimentações das tropas nacionais junto à cidade de Artemivsk, uma das principais bases governamentais no Leste: uma coluna de mais de 40 veículos com peças de artilharia foi vista a afastar-se da frente de combate. Os repórteres também comprovaram a recolha do arsenal pesado instalado junto da localidade de Paraskovivka, na zona de confronto.

Os últimos desenvolvimentos permitem acalentar esperanças de que ambos os lados estejam efectivamente a acatar o acordo negociado em Minsk para uma solução pacífica para o conflito no Leste da Ucrânia, que desde Abril de 2014 já fez mais de 5800 vítimas. O Exército ainda não tinha movimentado as suas forças, em resposta ao início da retirada anunciada há dois dias pelos separatistas – que no entanto não foi ainda confirmado pelos observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) presentes no local.

No mesmo comunicado, o ministério da Defesa reserva-se o direito de reavaliar o calendário de retirada em caso de “tentativas de ataque” por parte dos separatistas. Esta quinta-feira, os jornalistas internacionais que se encontram em território controlado pelos rebeldes reportavam trocas de tiros ocasionais e até ruídos de explosões, mas não deram conta de nenhuma ofensiva militar.

A missão internacional de monitorização aludiu à movimentação de camiões e outros veículos pesados em áreas sob o domínio rebelde, mas lamentou a postura dos separatistas, que não prestam informações sobre essas manobras. Segundo o presidente da assembleia parlamentar da OSCE, Ilkka Kanerva, os líderes pró-russos têm sistematicamente recusado “o acesso ilimitado, em segurança e sem restrições dos monitores no terreno na Ucrânia, em clara violação dos termos subscritos entre as partes em Minsk”.

O mesmo responsável manifestou a sua insatisfação pela “óbvia falta de vontade da Rússia em exercer a sua influência junto dos rebeldes, insistindo que estes têm de garantir imediatamente o acesso dos monitores, deixar de violar a trégua e retirar todo o armamento da linha da frente”.

Apesar das críticas, os monitores detectaram outros sinais encorajadores na zona de fronteira, onde se tem assistido a um maior movimento de regresso a casa de ucranianos desalojados pelo conflito. De acordo com os números apresentados pela OSCE, que supervisiona os postos fronteiriços de Donetsk e Goukovo, a cada dia que passa, há em média mais 184 pessoas a entrar na Ucrânia do que a sair do país.

Segundo a organização, a tendência é para a reversão do fluxo de habitantes que fugiram para o lado russo para escapar dos combates. “É uma evolução que não está alheia à melhoria da segurança e da estabilidade na região”, declarou à AFP o chefe da missão, Paul Picard.

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