Maioria dos gregos acredita que a UE irá ceder às exigências do futuro Governo

Do lado da Europa, os avisos continuam, com o BCE a reafirmar que deixa de emprestar dinheiro aos bancos se não houver acordo com a troika.

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O Syriza de Alexis Tsipras continua a liderar as sondagens Yorgos Karahalis/Reuters

Os gregos continuam a ser contra uma saída do país do euro e a maioria acredita que, se um futuro Governo exigir um perdão de dívida à Europa, esta acabará por ceder e aceitar as exigências.

Esta quinta-feira foram publicadas na Grécia três novas sondagens relacionadas com as eleições legislativas que se realizam no próximo dia 25 de Janeiro. Todas elas continuam a dar a vitória ao Syriza, o maior partido da actualidade na esquerda grega, que defende o fim da política de austeridade e uma reestruturação da dívida pública. Nestes inquéritos, a vantagem em relação à Nova Democracia, do primeiro-ministro Antonis Samaras, é de aproximadamente três pontos percentuais, a pouco mais de duas semanas do acto eleitoral.

“A diferença entre dos dois partidos diminuiu ligeiramente, mas a vantagem [do Syriza] é sólida e não será recuperada facilmente”, afirma o responsável por uma das sondagens de opinião que consistentemente têm vindo a dar a vitória eleitoral ao Syriza.

É normal por isso que os sinais de nervosismo do lado de Antonis Samaras comecem a tornar-se cada vez mais evidentes. Numa acção de campanha realizada esta quarta-feira, o primeiro-ministro decidiu usar o ataque ao jornal francês Charlie Hebdo como argumento para criticar a política defendida pelo Syriza para a imigração. “Houve um massacre hoje em Paris e aqui há pessoas a convidarem imigrantes ilegais e a distribuírem cidadanias”, afirmou Samaras, numa declaração que teve repercussão internacional por ser em tudo semelhante à argumentação usada pelos partidos de extrema-direita na Europa e em particular na Grécia.

Samaras tem também intensificado o discurso em que associa uma vitória do Syriza a uma inevitável saída do euro, dizendo que será isso que irá acontecer se um Governo liderado por Alexis Tsipras confrontar as autoridades europeias com as suas exigências de um perdão de parte da dívida e de fim da austeridade.

O líder do Syriza responde por seu lado que a saída do euro não é um objectivo e defende que a Europa irá compreender que a solução proposta pelo seu partido é a única viável para a Grécia e para o resto da Europa periférica.

Uma ideia em que a maioria dos gregos parece acreditar. De acordo com uma das sondagens publicadas esta quinta-feira, 75,7% dos gregos acham que a Grécia se deve manter no euro. E embora haja 59,2% que consideram que existe actualmente o risco de isso deixar de acontecer, 52,6% acredita que, numa futura negociação entre o Governo saído das eleições e os parceiros europeus, serão estes últimos os primeiros a ceder, aceitando as exigências feitas pela Grécia para resolver o seu problema económico.

É isto que explica que, apesar de a grande maioria dos gregos defender a permanência no euro, um partido como o Syriza, que aposta numa estratégia de confronto com a troika, consiga estar à frente na generalidades das sondagens para as eleições.

BCE avisa

Do lado da Europa, a estratégia é também assumir uma posição de força, não dando quaisquer sinais de cedência em relação às propostas do Syriza. Esta quinta-feira, o Banco Central Europeu fez questão de deixar claro aquilo que aconteceria se o futuro Governo grego não chegasse a acordo com a troika.

A entidade liderada por Mario Draghi avisou que, se a Grécia não estiver sob a alçada de um qualquer programa de ajustamento europeu, deixará de emprestar dinheiro aos bancos gregos, uma vez que estes, por causa dos seus ratings lixo, deixariam de ser elegíveis para as operações de refinanciamento do banco central.

Uma vez que o actual programa da Troika na Grécia se conclui no final de Fevereiro, o futuro Governo irá ter um tempo muito escasso para evitar ficar sem apoio financeiro dos parceiros europeus e evitar que o seu sistema bancário entre em colapso, ao perder o financiamento do BCE.

Na Alemanha, que terá um papel fundamental a desempenhar nesta discussão, o diário Bild noticiou que o Governo liderado por Angela Merkel se está a preparar para um cenário de saída da Grécia do euro. Por outro lado, no italiano La Stampa avança-se que a pessoa escolhida por Merkel para negociar com o Syriza é o actual ministro Jörg Asmussen. Este ex-membro do conselho executivo do BCE é visto como muito próximo, tanto de Mario Draghi como do ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble.

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