Morreu Billie Whitelaw, a “actriz perfeita” de Samuel Beckett

Com uma carreira de mais de meio século no cinema e na televisão, foi no teatro do dramaturgo irlandês que a actriz deixou a sua marca maior.

Foto
Billie Whitelaw com Samuel Beckett DR

A actriz britânica Billie Whitelaw, com uma extensa carreira no cinema e na televisão, mas que ficou especialmente conhecida pelo trabalho no teatro com o escritor e dramaturgo irlandês Samuel Beckett, morreu este domingo aos 82 anos, revelou o filho à BBC.

Beckett, com quem Billie Whitelaw trabalhou durante um quarto de século, entre 1963 e a morte do dramaturgo em 1989, disse um dia que ela era “a actriz perfeita". E foi também a sua musa, já que foi para a actriz que admitiu ter escrito várias das suas peças.

Billie Whitelaw, explicou o filho Matthew Muller, viveu os últimos quatro anos em Denville Hall, um lar de artistas no norte de Londres fundado pelo actor e realizador também desaparecido este ano Richard Attenborough.

“A minha mãe morreu pacificamente às primeiras horas de domingo” em Denville Hall, disse Matthew, filho do segundo casamento de Billie, com o crítico de teatro Robert Muller, depois de uma primeira relação com o actor Peter Vaughan nas décadas de 1950-60.

Sobre a morte, Billie Whitelaw disse em 1997 numa entrevista ao jornal The Independent, agora recordada pelo Guardian: “A morte não é algo que me assuste. Subir a um palco à espera que o pano suba assusta-me muito mais. Muitas vezes acordo às duas da manhã com o estômago às voltas. Às vezes é difícil perceber porquê. Talvez sejam as coisas que arrumámos durante o dia...”

Se o palco foi, de facto, a ocupação dominante na carreira de Billie Whitelaw desde o início da década de 50 em Londres, também o cinema e a televisão registaram a sua arte ao longo de mais de meio século.

No grande ecrã, o seu trabalho foi distinguido com dois BAFTA (os “Óscares” da indústria britânica), pelos desempenhos como actriz secundária em Um Homem e a sua História (Charlie Bubbles, 1967), contracenando com Albert Finey, que também foi o realizador do filme, e como actriz principal em O Anormal (Twisted Nerve, de Roy Boulting, 1968). Foi também distinguida como melhor actriz no Fantasporto de 1990, pelo seu papel no filme Os Irmãos Kray, de Peter Medak.

No grande ecrã, Billie Whitelaw foi ainda actriz de Alfred Hitchcock, em Perigo na Noite (Frenzy, 1972), e teve das interpretações mais marcantes, assinala o The Guardian, na personagem de Mrs. Baylock, uma ama demoníaca em O Génio do Mal (The Omen, 1976), de Richard Donner, e na sua última aparição no cinema, na comédia policial Esquadrão de Polícia (Hot Fuzz, 2007), de Edgar Wright.

Nascida a 6 de Junho de 1932, em Coventry, no centro da Grã-Bretanha, Billie Whitelaw perdeu o pai quando tinha apenas 10 anos, e as dificuldades da sua infância tiveram o ponto alto na necessidade da família de fugir para Bradford, aquando dos bombardeamentos alemães no II Guerra Mundial.

A uma infância e adolescência difíceis, seguiu-se uma vida adulta que foi salva pela arte da representação. Referindo-se a este contraste na entrevista atrás citada, a actriz admitiu que não tinha ainda conseguido “resolver” essa situação, e se sentia ainda “envergonhada” por ter tido "uma boa vida”.

A Rainha Isabel II fê-la comendadora do Império Britânico (CBE) em 1991.

Sugerir correcção
Comentar