O fantasma da islamização

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Eram 200 na sua primeira “segunda-feira”, 20 de Outubro, em Dresden. Foram-se espalhando por outras cidades alemãs. Na última segunda-feira, em Dresden, eram já 10 ou 15 mil, protestando contra o direito de asilo. Soaram os alarmes. São manifestações islamófobas, convocadas por uma organização intitulada Pegida — Europeus Patriotas contra a Islamização do Ocidente. Na origem terão estado “ultras” do futebol e neonazis. Hoje, são maioritariamente pessoas comuns, “cidadãos com medo”, que gritam nas manifestações: “Nós somos o povo” — como na RDA antes da queda do Muro de Berlim. Outra palavra de ordem é a da fotografia: “Nenhuma sharia na Europa.”

“É uma vergonha para a Alemanha que as manifestações se façam contra refugiados que tudo perderam e nos pedem ajuda”, declarou o ministro da Justiça alemão, Heiko Maas. O protesto assenta num fantasma: no Land do Saxe, o de Dresden, há apenas 2,1% de estrangeiros e 0,1% de muçulmanos. Pior, acrescenta Maas: “Ninguém na Alemanha pode ter medo de uma alegada islamização, pois a maioria dos refugiados sírios não são muçulmanos mas cristãos.”

O Pegida não é um movimento xenófobo “clássico”, é estritamente anti-islâmico. “É preciso ser prudente, não são neonazis nem de extrema-direita. Não são extremistas, são pessoas que têm medo”, diz Patrick Moreau, estudioso do extremismo alemão. O problema é a mistura explosiva que começa a desenhar-se: protestam contra a imigração, as elites políticas, os grandes jornais, os burocratas de Bruxelas. O partido antieuro, Alternativa para a Alemanha, entrou em força nos parlamentos regionais com um discurso anti-imigração. Outro sinal: uma sondagem indica que 49% dos alemães olham com simpatia as “segundas-feiras”.

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“Nenhuma sharia na Europa” pode ler-se no estandarte na fotografia Hannibal Hanschke/Reuters

Esta vaga populista não é um subproduto da crise económica: prospera nos países ricos do Norte. E não se exorciza chamando aos manifestantes “feios, porcos e maus”. A nova “peste” exprime, entre outras coisas, um sentimento de abandono e desorientação, de insegurança cultural e de identidade: medo do outro, medo do futuro.

A ameaça não é só Marine le Pen. Aproximam-se novos testes. Em 2015, haverá eleições na Dinamarca, Suécia e Finlândia. Nos três países, os partidos populistas, xenófobos e eurocépticos estão em posição de força e deverão reforçar o seu papel de árbitros das coligações (e das políticas) perante conservadores e sociais-democratas.

Numa Europa a envelhecer, a imigração é vital. Mas, sob pressão populista, os governos — de Madrid a Londres — recuam e tornam impossível uma política europeia para a imigração. Diga-se que, até hoje, não a souberam explicar. Tal como pouco se preocuparam em perceber o “medo” dos cidadãos em cólera.

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