Dilma escolhe “Joaquim mãos de tesoura” para ser o novo ministro das Finanças

Com a nomeação de Joaquim Levy, actual director do banco Bradesco, a Presidente brasileira escolhe um homem próximo dos mercados para conduzir a política económica do segundo mandato.

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O futuro ministro das Finanças do Brasil, Joaquim Levy (foto de arquivo, em 2009) Marco Terranova

A Presidente do Brasil, Dilma Rousseff, confirmou que o próximo ministro das Finanças do país será Joaquim Levy, que já foi secretário do Tesouro no Governo de Lula da Silva e actualmente exercia o cargo de director executivo do banco Bradesco.

Joaquim Levy, que é engenheiro naval de formação, tem um doutoramento em economia na conceituada universidade de Chicago, uma escola ultra-liberal, e trabalhou durante anos no Fundo Monetário Internacional. Tem fama de ser um “workaholic”, seguro de si e pouco disposto a fazer concessões – ao assinalar as diferenças ideológicas entre o futuro ministro e Dilma Rousseff, a imprensa brasileira notava que a teimosia seria o traço de carácter comum entre os dois.

A Presidente reeleita vai recompondo a sua equipa ministerial para o segundo mandato, que se inicia no dia 1 de Janeiro de 2015. A escolha do responsável pela pasta das Finanças era a mais sensível e também a mais esperada – Dilma anunciou, em plena campanha, a saída de Guido Mantega, um gesto que foi imediatamente interpretado como uma intenção de mudar o rumo da política económica.

Do que se conhece do pensamento económico de Levy, as suas opiniões estão bem mais próximas das de Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Central que foi o conselheiro para a área económica do candidato do PSDB, Aécio Neves, do que das de Dilma, com quem aliás alimentou uma polémica pública por causa de um programa de longo prazo para o controlo dos gastos públicos, quando os dois integravam o Governo Lula.

Além de Levy, a Presidente indicou Nelson Barbosa, professor da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo, para a pasta do Planeamento, e reconduziu Alexandre Tombini na presidência do Banco Central. Com a nomeação, os futuros ministros podem já começar a trabalhar no Palácio do Planalto, com as equipas de transição de cada ministério. Esta entrada informal em funções pretende dar um sinal de estabilidade e restabelecer a confiança dos mercados financeiros, que “penalizaram” o Brasil após a votação presidencial, descontentes com a política económica ortodoxa do primeiro Governo de Dilma.

“A Presidente sentiu a necessidade de anunciar agora a equipa económica para assegurar a credibilidade e evitar uma solução de continuidade no processo da economia brasileira. Os ministros da economia têm uma natureza, na sua influência na sociedade, completamente diferente de qualquer outra área, é uma área sensível”, explicou à agência Brasil o ministro que é porta-voz da presidência, Gilberto Carvalho.

O Brasil atravessa um momento conturbado do ponto de vista económico e das finanças públicas, com uma recessão técnica a ameaçar as perspectivas do crescimento, que analistas acreditam não chegará sequer a 1% este ano, e só deverá aumentar mais um ponto no próximo ano. O novo ministro herda um défice orçamental que para 2015 está estimado em cerca de 100 mil milhões de reais (perto de 32 mil milhões de euros), pondo em causa os objectivos governamentais de poupança para o abatimento da dívida pública.

Como revela a Folha de São Paulo num perfil de Levy, o futuro ministro já é tratado por “Joaquim mãos de tesoura” nos corredores do Planalto. O cognome tem a ver com aquela que será, segundo todos os especialistas, uma das suas tarefas mais difíceis: reajustar (leia-se cortar) a despesa do Estado. Levy já o fez em 2002 e 2003,quando esteve no Tesouro, e reduziu consideravelmente os investimentos não obrigatórios (obras públicas ou compras de equipamentos, por exemplo).

Outros nomes que estão na lista de Dilma Rousseff para o seu segundo Governo são do senador Armando Monteiro, que perdeu as eleições para governador de Pernambuco e deverá seguir para o ministério do Desenvolvimento e Indústria, e ainda da senadora do PMDB Kátia Abreu, que é conhecida como o rosto e principal defensora do agronegócio em Brasília, e assumirá a direcção do ministério da Agricultura. Esta última é uma nomeação polémica e que tem sido muito contestada pelo Partido dos Trabalhadores e outros sectores mais à esquerda, pelo que a sua nomeação não foi confirmada na mesma cerimónia em que foi apresentada a equipa de Joaquim Levy.

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