“O ritmo sou eu que o faço, venho cá as vezes que quero”

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Adriano Miranda

Ouve-se o toque de entrada, mas não há correrias desenfreadas como nos corredores de uma escola. Os alunos começam a juntar-se na sala polivalente, calmamente. Retiram os instrumentos dos estojos, alinham as pautas à sua frente e esperam. “Vamos às «Sete Mulheres do Minho»”, diz o professor, quando começa a aula. Ouvem-se cavaquinhos, violas e pandeiretas. Primeiro arranque em falso. À segunda tentativa a canção não chega a um terço. À terceira, como no ditado, foi de vez.

O ensaio da tuna da Universidade do Autodidata e da Terceira Idade de Guimarães (Unagui) é um dos horários mais concorridos no plano semanal da instituição, com mais de 40 inscritos. Maria de Belém, 64 anos, assegura o ritmo do grupo, tocando bombo. Está cá desde a fundação desta Universidade Sénior, em 1994. Nessa altura ainda era professora no ensino básico e decidiu usar o tempo livre para se inscrever nas aulas de bordado. No final do primeiro ano, a responsável pela turma morreu. “Como eu tinha muita habilidade com bordados e fazer arraiolos, pediram-me para tomar o lugar dela e, a partir daí, fiquei sempre”, conta. Hoje é aluna, professora e faz parte da direcção da Unagui: “É a minha segunda casa”.

Conhece quase todos os outros utentes e os motivos que os levam a inscreverem-se na universidade. “Aqui não pensam em nada”, diz Maria de Belém. “Há senhoras que vêm porque faleceram os maridos há pouco tempo.  Este é um meio de elas esquecerem e deixarem de estar tristes com os problemas de casa”, acrescenta.

“Eu vim para manter uma cerca actividade, para estar com pessoas”, explica António Almeida. Foi inscrever-se na Unagui pela primeira vez em 2009. Este antigo Engenheiro Têxtil, de 65 anos, tinha-se aposentado e “passar da vida activa para a vida não activa, às vezes é complicado”. Na universidade aprendeu a tocar cavaquinho e viola e hoje é um dos elementos da turma. Frequenta outras aulas como as de nutrição, filosofia. Não se cansa: “O ritmo sou eu que o faço, venho cá as vezes que quero”.

A Unagui nasceu há 20 anos, por sugestão de um professora do Ensino Secundário. Começou com 70 pessoas, hoje tem quase 250, entre cooperadores, professores e alunos. O mais novo tem 60 anos, o mais velho, 94. A instituição mudou-se para as actuais instalações no início do ano, depois de comprar a sede da Associação de Viajantes e Técnicos de Venda de Guimarães. Aqui há um auditório com capacidade para 135 pessoas, bar, refeitório, sala de jogos, sala polivalente, quatro salas de aula e um posto de socorro. Há poucas Universidades Séniores com tão boas condições. O investimento custou 700 mil euros, pagos quase todos com receitas próprias. “Durante 20 anos, amealhámos o máximo possível”, explica o presidente da instituição, José Inácio Menezes. Houve um apoio da autarquia local e outro da Segurança Social, que ainda não chegou, mas que servirá para pagar a instalação de um elevador.

Os alunos pagam uma anuidade 200 euros e podem frequentar todas as aulas que queiram. Além da tuna, Educação emocional sénior (43 alunos), canto coral (40) e cultura religiosa (38) são as outras favoritas dos estudantes, mas na Unagui há outras propostas como Hidroginástica, Literatura Portuguesa, Francês, Inglês, Folclore, Reiki e TIC. As turmas nunca têm menos de 15 alunos.

Paulo Martins, 63 anos, vem da cidade vizinha de Fafe para dar aulas de Filosofia, a mesma matéria que ensinava quando era professor. Na Universidade Sénior “as vivências dos alunos contam como matéria-prima para as aulas”. Também é aluno, na tuna e no inglês e só tem pena de não morar mais perto, para ter mais tempo: “Aqui, posso manter a mente viva”. 

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