Banco do Japão surpreende mercado com ampliação do programa de estímulos

O Banco do Japão surpreendeu os mercados esta sexta-feira ao anunciar, contra todas as expectativas, que vai aumentar o volume de compra de activos para combater os riscos de deflação e tentar injectar dinamismo na estagnada economia do país.

Numa decisão que praticamente dividiu a meio o conselho de administração do banco (quatro entre nove administradores votaram contra), a autoridade monetária decidiu ampliar as compras anuais de dívida privada e pública, dos actuais 50 biliões para 80 biliões de ienes (o equivalente a cerca de 600 mil milhões de euros).

Numa conferência de imprensa realizada após a reunião desta sexta-feira, o governador do banco, Haruhiko Kuroda, afirmou que a opção pela ampliação dos estímulos económicos constitui uma forma de manter a política monetária adequada às necessidades do país. Mas alguns analistas têm dúvidas que a receita que não funcionou no passado recente vá agora funcionar apenas porque se pôs a máquina de impressão de noras a funcionar a uma velocidade superior.

"Foi claramente uma grande surpresa, dado que o governador Kuroda vinha repetindo, com insistência, que a política monetária estava no rumo certo, apesar dos avisos relativos ao lado mais sombrio da fraqueza da moeda japonesa", affirmou um analista, Sean Callow, da companhia Westpac

Há vários anos que o Banco do Japão tem vindo a adquirir activos no mercado de dívida sem que sejam visíveis resultados dessa acção. Pelo contrário: o produto interno bruto continua com crescimentos muito ligeiros ou em estagnação e a procura interna (nomeadamente a das famílias) continua a cair, agravando o quadro de expectativas económicas.

O governo nipónico acentuou os receios de um agravamento da situação económica, ao decidir aumentar a taxa do imposto sobre o valor acrescentado e há graves críticas internas relativas ao facto de o executivo continuar a adiar muitos dos investimentos públicos que poderiam contribuir para reanimar a economia.

Ontem, aliás, a agência Reuters, no culminar de uma investigação de várias semanas, revelava que uma parte substancial das verbas atribuidas para construir estradas, pontes e novas casas - cerca de 30 mil milhões de dólares - na sequência do tsunami de 2011, continua por utilizar. Esta verba, colocada no terreno, poderia impulsionar sectores chave da economia, como o da construção.

 

 

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