Bases da NATO no Afeganistão passam para o exército do país

Foi um “dia histórico” que assinala o início do fim da presença coligação internacional e da guerra contra os taliban. O desafio agora é de Cabul.

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Soldados saúdam, pela última vez, as bandeiras da coligação na base militar afegã Wakhil Kohsar / AFP

Ao fim de treze anos, as bandeiras norte-americana e britânica foram arrumadas nas duas bases da coligação internacional da NATO no Afeganistão. A cerimónia assinala o fim iminente da missão, mas a retirada dos militares não vai ser feita de imediato.

As duas bases militares no Sudoeste do país, Camp Leatherneck e Camp Bastion, passam agora para a administração afegã do Presidente recém-eleito, Ashraf Ghani. “É verdadeiramente um dia histórico”, disse Joseph Anderson, general do exército norte-americano, durante o discurso que assinalou a transferência dos dois campos. “Anos de combate contínuo, inúmeras horas de patrulhas sob o sol tórrido e muitas baixas, este dia marca o fim da missão aqui no Sudoeste”, acrescentou.

Ainda assim, a presença militar estrangeira no Afeganistão vai continuar. Cerca de 34 mil soldados permanecem no país e a data de saída não é conhecida por razões de segurança, escreve a Reuters.

A passagem para a administração de Cabul estava já a ser preparada – as missões britânica e norte-americana passaram os últimos tempos a apagar a sua presença em Bastion e Leatherneck, respectivamente. Os jornalistas nos dois campos notaram, por exemplo, que os quadros onde figuravam as fotografias dos soldados que morreram em combate já se encontravam vazios.

A presença contínua nos últimos treze anos das forças da coligação levou ao crescimento destas bases – Bastion chegou mesmo a ser a maior base militar britânica no mundo. Diz a BBC que a base com um perímetro de 35 quilómetros chegou a albergar 30 mil pessoas – entre pessoal militar e civil – e estava provida de um hospital, força policial, ginásios e até um Pizza Hut.

As duas bases estão localizadas na província de Helmand, palco de alguns dos combates mais mortíferos durante a guerra no país. Mais de 700 soldados britânicos e norte-americanos foram mortos, segundo o Washington Post. Entre os norte-americanos o número total de baixas ultrapassou as 2200.

A saída da totalidade dos soldados da NATO do país não vai ser feita de imediato. Actualmente permanecem no Afeganistão cerca de 34 mil membros da coligação e o Presidente norte-americano, Barack Obama, prometeu que até Janeiro esse número iria descer para metade. Os contingentes que irão continuar terão tarefas sobretudo de treino e aconselhamento militar.

Agora, cabe ao exército afegão gerir as duas bases numa altura em que os combates voltaram à região. Durante o Verão, os taliban lançaram uma ofensiva para tomarem Sangin, onde é feita a maioria da produção de ópio e papoila – produtos importantes para o financiamento dos taliban. O grande teste às novas autoridades afegãs será a continuação da luta contra as forças taliban, que desde 2001 procuram regressar ao poder, sem o apoio que foi dado até aqui pela coligação internacional.

O Exército Nacional Afegão, assim como os comandantes da coligação, têm insistido na boa preparação do exército local para lidar com futuras insurgências. “Posso assegurar, o ENA já tem conduzido operações por si próprio, no campo de batalha, e nenhum distrito foi tomado nem nenhum checkpoint foi conquistado pelos taliban”, disse ao WP o major-general Sayed Malouk, que comanda uma divisão do exército afegão.

“As forças de segurança afegãs estão muito melhor preparadas do que aquilo que a maioria lhes dá crédito, e a maior parte das pessoas com quem falo diz que eles são capazes de manter o controlo sobre grande parte das maiores cidades e centros populacionais”, assegurou à BBC o contra-almirante da Marinha Britânica, Chris Parry, um dos responsáveis pela estratégia militar no Afeganistão.
 

   





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