Comissário espanhol recusa dizer se o cunhado vendeu acções nas petrolíferas que dirigia

Miguel Arias Cañete foi nomeado comissário europeu para as Alterações Climáticas e Energia, mas as suas ligações à indústria petrolífera deixam-no sob fortes suspeitas de incompatibilidades.

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Manifestação contra o comissário Cañete junto ao Parlamento Europeu EMMANUEL DUNAND/AFP
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Miguel Arias Cañete pediu desculpas pelas declarações machistas Yves Herman/REUTERS
“Quero que o meu país continue parte de uma União de 500 milhões de pessoas", disse Jonathan Hill
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“Quero que o meu país continue parte de uma União de 500 milhões de pessoas", disse Jonathan Hill Yves Herman/REUTERS

Um cunhado faz parte da família? Segundo o comissário europeu indicado pelo Governo espanhol, não. Miguel Arias Cañete foi indicado para a pasta das Alterações Climáticas e da Energia, mas multiplicam-se as suspeitas sobre os conflitos de interesse que ele e os seus familiares próximos terão, como accionistas de empresas petrolíferas. “Não há conflito de interesses. Nem a minha esposa nem o meu filho têm interesses nestas empresas”, repetiu ontem na audição a que foi submetido no Parlamento Europeu (PE). Mas sobre o seu cunhado, recusou-se a responder.

Em causa estão as empresas Petrologis Canárias e Ducar. Tinha uma participação de 2,5% em cada uma, mas assegura que vendeu as suas acções quando soube a pasta que lhe calhou. As dele, as da sua mulher e do seu filho. A quem, não disse. E quanto ao seu cunhado, manteve-se mudo, ignorando várias vezes as perguntas directas sobre o assunto.

Há um forte movimento contra a designação de Cañete como comissário europeu das Alterações Climáticas e da Energia, por se considerar que tem um perfil em contraponto com o que deveria ter o responsável desta pasta, por causa das ligações à indústria petrolífera. Além de manifestações à porta do PE, existe mesmo uma petição online contra ele, que esta tarde tinha mais de 331 mil assinaturas de vários países europeus.

Cañete tem contra ele ainda uma tirada machista nas últimas eleições, quando após um debate com a socialista Elena Valenciano, disse que era “muito complicado” discutir com uma mulher. “Se cometeres um abuso de superioridade intelectual, parece que és um machista e que estás a encurralar uma mulher indefesa”. As primeiras palavras no PE de Cañete nesta quarta-feira tiveram de ser um pedido de desculpas por este “comentário infeliz”: “Já pedi perdão e volto a pedir perdão. Acredito que é preciso lutar por uma Europa mais justa e mais inclusiva.”

Mas das eleições europeias de Maio resultou um Parlamento Europeu em que os dois principais blocos, o Partido Popular e os Socialistas, têm de cooperar, para que a instituição consiga funcionar. Neste contexto, não é certo que Cañete, dos populares, possa ser rejeitado, sem que em contrapartida o socialista francês Pierre Moscovici, que será sujeito a audição quinta-feira, seja chumbado pelos populares.

O britânico Jonathan Hill era outro comissário europeu encarado com desconfiança: Jean-Claude Juncker, o novo presidente da Comissão Europeia, atribuiu-lhe as pastas da Estabilidade Financeira, Serviços Financeiros e União dos Mercados de Capitais. Mas este ex-proprietário de empresas de lobbying e membro da Câmara dos Lordes ultrapassou o desafio com um misto de charme, demonstração de que domina a regulação financeira europeia e uma declaração de compromisso com a integração europeia.

Manteve-se fleumático – mesmo quando um eurodeputado do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP), eurocéptico, lhe perguntou se tivesse de escolher entre servir a rainha e a União Europeia, quem escolheria? “Tenho a certeza que a rainha não veria qualquer conflito de interesses”, respondeu.

Se muitos eurodeputados desconfiavam da sensatez de entregar a pasta das Finanças a um britânico visto como um enviado das grandes empresas financeiras e dos bancos, Hill esforçou-se por desarmadilhar essa imagem. “Não estou aqui para defender a City, estou aqui para defender os interesses dos cidadãos da Europa”, assegurou.

Trouxe uma mensagem tranquilizadora quanto à permanência do Reino Unido na União Europeia: “Quero que o meu país continue parte de uma União de 500 milhões de pessoas com valores partilhados, que vivem juntos, trabalham juntos, e enfrentam desafios globais juntos”, afirmou.

Mas quando foi interrogado sobre a sua posição quanto à mutualização da dívida (eurobonds), Jonathan Hill tornou-se vago. “Sobre as eurobonds não tenho uma opinião bem informada. Não sei o suficiente para falar sobre este assunto”, disse.

 

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