Prince vale mais rodeado de mulheres

Duplo lançamento: novo álbum a solo, novo álbum com as 3rdeyegirl.

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Em Agosto do ano passado, Prince reservou quase de véspera o Coliseu dos Recreios, em Lisboa, para se apresentar com as 3rdeyegirl, banda que montara meses antes e com a qual se propunha vergar o mundo com recurso quase exclusivo ao rock’n’roll.

E era mesmo de rock’n’roll que se tratava, o funk timidamente escondido por trás do portento sonoro oferecido pela guitarra de Donna Grantis, pelo baixo de Ida Nielsen e pela bateria de Hannah Ford Welton, todas espremendo os seus instrumentos até ao limite numa desabrida passagem por temas novos e alguns clássicos de Prince Roger Nelson. Não deixa, por isso, de ser curioso que, ao lançar em simultâneo um novo álbum a solo e outro assinado em parceria com as 3rdeyegirl, Prince repita um único tema nos dois alinhamentos: Funkandroll.

Desta vez, numa edição mais equilibrada mas também menos dolosa do que Lotusflow3r (2010), não tem de se levar com um disco triplo podendo interessar só um — para adquirir o apreciável Lotusflow3r, recorde-se, era-nos impingida a estucha da estreia discográfica de Bria Valente, desenxabida candidata a estrela r&b e protegida do rei de Minneapolis. Na verdade, Art Oficcial Age e Plectrum Electrum fazem até mais sentido em conjunto do que esse tríptico, na medida em que Prince se rodeia em ambos os discos do trio feminino.

Acontece que só em Plectrum Electrum Prince canibaliza com real fervor as três instrumentistas, a ponto de as puxar para a co-autoria do disco. E isso é perfeitamente discernível ao escutar ambos os álbuns. O lastro de rock’n’roll, a silhueta de Jimi Hendrix desenhada pelas cordas das guitarras em despique só floresce em Plectrum (Ainturninaround ou Plectrumelectrum), ao passo que Art Official Age trata Grantis, Nielsen e Welton sobretudo como prestadoras de serviços, cujos contributos são enxertados com minúcia em cada canção, sem que as três tenham espaço para bilhar ou sequer um peso evidente na condução dos temas. Oiça-se, por exemplo, o excelente Art official cage, que Prince faz baloiçar entre a mais oleosa EDM, o hip-hop-funk à Neptunes e a uma rápida escala no Médio Oriente. É um dos melhores exemplares do álbum e nem por isso se sente a marca de qualquer uma.

Ainda assim, abundante em bons exercícios na fórmula da canção, Art Official Age não afasta suficientemente Prince de si mesmo para que o artista anteriormente empenhado em fazer esquecer o nome Prince apague da nossa memória esse tipo que compôs coisas como Purple rain, Little red Corvette, Sign O the times ou U got the look. Com o passar dos anos, Prince parece ter perdido o atalho para a eficácia pop. Daí que Plectrum Electrum, mais encostado ao rock e mostrando-se permeável a terras r&b (graças à maior intervenção das 3rdeyegirl) proporcione um reencontro com um Prince menos instalado, mais interessado em umbigos alheios.

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