Este Van Gogh pode chegar aos 40 milhões de euros

Obra é leiloada em Nova Iorque a 4 de Novembro. Flores foram colhidas no campo em que o pintor holandês viria a suicidar-se um mês depois.

"Jarra com margaridas e papoilas" foi pintada um mês antes do suicídio do artista, aos 37 anos
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"Jarra com margaridas e papoilas" foi pintada um mês antes do suicídio do artista, aos 37 anos Cortesia: Sotheby's
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"Retrato de Madame Ginoux" foi à praça em 2006 e rendeu 31,5 milhões de euros Bobby Yip/Reuters
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A 15 de Maio de 1990 "Retrato do Dr. Gachet" foi arrematado pelo valor recorde de 64,6 milhões de euros Ray Stubblebine/Reuters
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"Jarra com quinze girassóis" (é a versão à esq.) foi vendida em 1987 por 39,7 milhões de dólares (hoje seriam 66 milhões de euros) Stefan Wermuth/Reuters

Um leilão com uma pintura de Vincent van Gogh em cartaz é sempre notícia. Mais ainda se se trata de uma das suas naturezas-mortas, obras capazes de atrair a atenção de grandes coleccionadores e fundos de investimento. "Jarra com margaridas e papoilas", a obra que a Sotheby’s vai levar a leilão em Nova Iorque a 4 de Novembro, não é excepção.

As estimativas de receita – a pintura não deverá mudar de mãos por menos de 23,6 milhões de euros e pode facilmente atingir os 40 milhões – ajudam a criar um clima de grande expectativa para o qual contribui o contexto em que a obra foi criada e o facto de ter sido das poucas que o pintor holandês vendeu em vida: Van Gogh executou-a na casa de um dos seus melhores amigos, o médico Paul Gachet, em Auvers-sur-Oise, nos arredores de Paris, poucas semanas antes de se suicidar, em 1890.

Esta é uma pintura “que irradia a exuberância e a paixão que se encontram nas melhores e mais conhecidas obras de Van Gogh”, disse o director do Departamento Internacional de Impressionismo e Arte Moderna da Sotheby’s, Simon Shaw, citado pelo diário espanhol ABC.

Segundo um comunicado da leiloeira divulgado pelas agências noticiosas, Jarra com margaridas e papoilas terá sido inicialmente vendida a um grande coleccionador de pintura impressionista, Gaston-Alexandre Camentron, e chegou a pertencer ao espólio privado de Anson Goodyear, um dos fundadores do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA). É precisamente nesta cidade americana que a obra será leiloada, depois de exposta em Hong Kong e em Londres, para que os possíveis compradores dos mercados europeu e asiático possam aguçar o apetite.

Van Gogh é tradicionalmente um êxito nos grandes leilões de Nova Iorque, Londres e Paris. Lembra Simon Shaw ao jornal britânico Financial Times que a procura de pinturas do artista é sempre grande já que, ao contrário de mestres como Picasso ou Matisse, o holandês teve uma carreira curta e, por isso, o corpo de obras que produziu é infinitamente menor.

Jarra com margaridas e papoilas é, segundo este director da Sotheby’s, uma obra “rara e comovente”, já que as flores representadas terão sido colhidas no mesmo campo em que, um mês depois, aos 37 anos, Van Gogh viria a morrer.

Sempre com falta de dinheiro, contando apenas com o mecenato de Gachet e com o irmão Theo para lhe comprar telas, tintas e pincéis, o artista holandês pintou esta natureza-morta sobre um linho de fraca qualidade, explicou ainda Shaw ao Financial Times, e tê-lo-á oferecido primeiro ao seu médico como pagamento pela sua estadia em Auvers-sur-Oise.

Há mais de 20 anos que Jarra com margaridas e papoilas pertence a “uma importante colecção europeia”, garante a Sotheby’s, que lembra que desde os anos 1980 se contam pelos dedos de uma mão as obras do pai do expressionismo – é assim que muitos especialistas o definem – com esta qualidade vendidas em leilão. Em 1990, Retrato do Dr. Gachet foi arrematada por 64,6 milhões de euros tornando-se, à época, na obra mais cara de sempre a ser leiloada (contas feitas à inflacção, hoje o valor seria de 119 milhões). Dezasseis anos mais tarde, um dos retratos que Van Gogh pintou de madame Ginoux chegou aos 31,5 milhões. Em 1987, a pintura Jarra com quinze girassóis, uma das versões do mesmo tema feitas pelo artista, tinha já sido vendida por 39,7 milhões de dólares, um valor que, ajustado, chegaria agora aos 66 milhões de euros.

A demonstrar que o mercado da arte continua a bater recordes, há já muito que Van Gogh foi ultrapassado como o pintor mais caro. Willem de Kooning, Gustav Klimt, Pablo Picasso e Jackson Pollock adiantaram-se, mas a corrida, até agora, tem como vencedor Paul Cézanne: o seu Os Jogadores de Cartas (1892/3) foi comprado, numa venda privada, pelas colecções públicas do Qatar em 2011 por 204 milhões de euros.

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