Duas facetas distintas do IV Festival Internacional de Polifonia Portuguesa

O grupo Cappella Musical Cupertino Miranda apresentou dois dos quatro programas que integram o IV Festival Internacional de Polifonia Portuguesa.

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Cappella Musical Cupertino Miranda, Ariana Savall (harpa e canto) Programa III do IV Festival de Polifonia Portuguesa

 Porto, Igreja de S. Francisco

19 de Setembro de 2014

Sala a três quartos

3 estrelas

Apesar de ser um grupo com apenas cinco anos de existência, a Cappella Musical Cupertino de Miranda já realizou um considerável número de concertos onde apresentou um vasto e interessante conjunto de obras polifónicas portuguesas, algumas delas em primeira audição moderna. Os oito cantores que integram este grupo vocal possuem uma relevante experiência coral, não só através dos concertos realizados na Cappella Musical Cupertino Miranda como também pela sua participação noutros grupos de referência, nomeadamente o Coro Casa da Música e o Ars Nova Copenhagen.

Apesar de ser um grupo com apenas cinco anos de existência, a Cappella Musical Cupertino de Miranda já realizou um considerável número de concertos onde apresentou um vasto e interessante conjunto de obras polifónicas portuguesas, algumas delas em primeira audição moderna. Os oito cantores que integram este grupo vocal possuem uma relevante experiência coral, não só através dos concertos realizados na Cappella Musical Cupertino Miranda como também pela sua participação noutros grupos de referência, nomeadamente o Coro Casa da Música e o Ars Nova Copenhagen.

Apesar das interessantes qualidades do grupo, o concerto do dia 19 na Igreja de São Francisco no Porto apresentou um conjunto de aspectos depreciativos. Em primeiro lugar, não revelou um propósito claro, consistindo numa mistura sem critério de dois programas independentes – por um lado a Cappella Musical que interpretou música polifónica portuguesa; por outro Arianna Savall que apresentou música instrumental e vocal renascentista e barroca e ainda composições de sua própria autoria.

O concerto não foi bem concebido dado que não foi tirado partido do contraste proposto pelo programa. Deste modo, a variedade de estilos abrangidos revelou-se inconsequente e a ordenação das peças obedeceu a um critério demasiado simplista, prejudicando a fluidez do concerto. O facto de a primeira e de a última peça terem sido executadas em conjunto não foi suficiente para resolver este problema, dado que o concerto consistiu na simples alternância entre coro e solista sem que a relação entre ambos fosse devidamente explorada.

A participação de Arianna Savall ficou aquém das expectativas. A sua interpretação caracterizou-se pelo recurso a um reduzido âmbito de dinâmicas ao qual faltou capacidade de projecção sonora e também um maior arrojo ao nível técnico e expressivo. Por estes motivos, a sua prestação foi monótona.

A performance da Cappella Musical foi também pouco conseguida. O grupo não conseguiu equilibrar a sonoridade dos quatro naipes e revelou alguma dificuldade de afinação e de fusão.

 
Cappella Musical Cupertino Miranda

IV Festival Internacional de Polifonia Portuguesa

Programa I do IV Festival de Polifonia Portuguesa

Vila do Conde, Igreja Matriz

20 de Setembro de 2014

Sala a três quartos

5 estrelas
 
Contrastando com o dia anterior, o concerto do dia 20 na Igreja Matriz de Vila do Conde apresentou um programa coerente, assente numa temática bem definida e numa performance musical de qualidade superior, revelando uma das facetas mais interessantes da Cappella Musical Cupertino Miranda: a sua colaboração directa com a investigação musicológica que se traduz na recuperação do repertório musical português polifónico. Deste modo, o maior motivo de interesse do concerto foi a oportunidade de assistir à execução de um conjunto de partituras que estiveram arquivadas durante mais de 300 anos na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.

O programa do concerto consistiu numa selecção de peças do Livro dos Defuntos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra: a Missa Pro Defunctis de Bernal e outras três peças do Ofício de Defuntos de compositores portugueses do século XVI.

Apesar de nas primeiras peças se ter verificado algum desequilíbrio na afinação, particularmente na entoação do cantochão pelas vozes masculinas, a qualidade da execução melhorou consideravelmente a partir do Gradual da missa de Bernal, tanto na afinação e no equilíbrio do conjunto, como na definição do fraseado. Um dos momentos mais expressivos e tecnicamente mais exigentes do concerto foi o Offertorium da missa do referido compositor que foi excelentemente executada por um quarteto de vozes agudas. O Sanctus & Benedictus foi provavelmente a peça em que o grupo mais bem explorou a riqueza harmónica da linguagem de Bernal. O concerto teve ainda outros momentos que demonstraram as reais capacidades do grupo.

A 4.ª edição do Festival Internacional de Polifonia Portuguesa prolonga-se até dia 27 com mais dois programas distintos. O festival, promovido pela Fundação Cupertino Miranda, apresenta outras iniciativas centradas na divulgação da música, da arte e da cultura portuguesas. É ainda digno de referência o facto de se realizar em diversas localidades, entre Douro e Minho, contribuindo deste modo para a valorização e descentralização da arte e da cultura desta região.

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