Depois de 28 de Setembro!

O Mundo, a Europa e o país pedem uma nova dinâmica de mudança que produza novas abordagens, novas atitudes, mais racionalidade.

Teremos dois possíveis cenários políticos em Portugal: um se António Seguro vencer as eleições Primárias no PS, e outro, muito diferente, se for António Costa a vencê-las.

No primeiro, o PS assume uma enorme responsabilidade de promover um novo ciclo em Portugal a partir dum processo de mudança no funcionamento do sistema político que será muito mais exigente para o regime democrático atual.

A alteração das leis eleitorais, a adoção de leis que promovam uma separação entre a política e os negócios, um passo para a diminuição do número de deputados, mas que os valorize e responsabilize, fazem parte inicial desse processo.

Não será um processo pacífico, mesmo no interior do PS, e obviamente terá que ter um consenso com outros partidos, designadamente com o PSD. Mas é o único caminho que terá apoios na sociedade e não deixará de colocar pressão sobre todos os partidos políticos daqui para a frente.

Com a realização destas eleições primárias, António Seguro já iniciou um processo que pode tornar-se irreversível se ele as vencer  e começar a mudar Portugal.

A alteração no funcionamento do sistema político é condição “sine qua non” para Portugal vencer a atual crise, porque o bloqueio principal atual vem da incapacidade do atual regime político, económico e social, produzir soluções de governação reformistas e ousadas para, não só enfrentarmos as mudanças ocorridas no Mundo, como aproveitar as novas oportunidades criadas pelos avanços das ciências e tecnologias, bem como os avanços na informação e conhecimento dos cidadãos. 

Este é um problema que não se verifica apenas no nosso país. É uma questão de pouco tempo até se colocar na Alemanha. Neste país não se colocou ainda porque adotou medidas para enfrentar as exigências da globalização da economia, e isso permitiu-lhe atravessar a atual crise beneficiando da explosão das economias emergentes, enquanto o ocidente marcava passo. Mas as suas reformas económicas,  laborais e sociais, não chegam, pois a demografia e a dependência energética externa já estão a cobrar o seu preço. Depois de Merkel, o próximo governo vai ter que enfrentar sem evasivas estes problemas, e não vai ser fácil.

Por outro lado, só com um novo governo alemão se irá finalmente enfrentar a necessidade de mudança nos tratados europeus, pois a arquitetura atual não dá força à Europa para ultrapassar a atual crise das dívidas soberanas com a manutenção da obsessão pela via da austeridade, que marcou estes cinco anos de crise. A consequência atual será a estagnação económica, como aconteceu nas últimas duas décadas no Japão, que se deixou definhar no plano demográfico e não fez reformas.

A solução da austeridade unilateral não funciona num contexto de competição, designadamente com os EUA, o Japão e o Reino Unido. Se a Europa  estivesse só, a austeridade seria uma saída possível, tal como acontece com uma família isolada. Só que isso não é nunca uma saída dinâmica, mas apenas recessiva.

Há ainda muita gente que pensa que se trata apenas duma posição ideológica liberal, quando é sobretudo uma visão... errada, que põe em causa as economias desenvolvidas. Muitos economistas ainda não perceberam que o pensamento económico que predominou no passado não se aplica à realidade do mundo e da economia atuais.

Em suma, o Mundo, a Europa e o país pedem uma nova dinâmica de mudança que produza novas abordagens, novas atitudes, mais racionalidade, até mais espiritualismo versus materialismo (!), mais solidariedade e menos egoísmo, melhor repartição da riqueza, o que  choca com o modo de funcionamento dos regimes políticos que se acomodaram como se tivéssemos chegado ao fim da história. O Papa Francisco não diz coisa diferente!

Com António Costa assistiremos a um PS que acredita numa abordagem inspirada no passado. Ele mobilizou as principais figuras do PS histórico que não querem ver nem participar num processo de mudança no regime. É compreensível, pois isso vai levar alguns a questionarem o contributo pleno dessas figuras e evidenciar como elas estão hoje desajustadas da realidade. É a lei da vida!

Como se pode dar crédito a alguém que diz que apresentará a sua visão para o País, mas apenas depois de ser eleito? Isto é sério?

Para António Costa não há nada a mudar no funcionamento do sistema político. Está tudo basicamente bem! É só mudar os protagonistas e voltamos naturalmente ao bom do passado! Diz que é preciso crescer para criar riqueza e emprego e assim pagar a dívida! Grande ideia, em que ninguém tinha pensado!

Mas como sem mudar os pilares do modelo económico que nos trouxe até aqui? Como, sem uma nova relação com a Europa e uma solução inovadora para a gestão das dívidas soberanas?

Se ele for eleito vai ter que fazer oposição fora do Parlamento até às próximas eleições, por não ser deputado. A sua oposição ao Governo não será mais do que uma versão do seu desempenho no programa semanal Quadratura do Círculo, na SIC, onde nestes anos não revelou nenhum pensamento particularmente inovador nem se superiorizou aos seus companheiros de programa!

Com a oposição no Parlamento a cargo de ex-ministros e secretários de Estado de José Sócrates, é fácil antever o filme quinzenal a que iremos assistir! Vai ser um ano deprimente para os socialistas!

Com António Costa, depois de 28 de Setembro, o PS ficará de novo refém do passado, ao contrário do acontece com António Seguro. Dois cenários muito distintos!

Militante do PS e apoiante de António José Seguro

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