Campanha eleitoral no Brasil é cada vez mais uma corrida entre Marina e Dilma

No segundo debate televisivo, as duas candidatas, empatadas nas sondagens das intenções de voto, confirmaram o seu favoritismo. Cada vez mais em terceiro, Aécio Neves procura ressuscitar a campanha dos tucanos.

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Debate no SBT confirma favoritismo de Dilma Rousseff e Marina Silva para a segunda volta AFP/NELSON ALMEIDA

As expectativas de um confronto acesso entre os principais candidatos à presidência do Brasil, durante o segundo debate eleitoral na televisão, foram totalmente goradas. Sem momentos dramáticos, ou coelhos tirados da cartola, a emissão reforçou a ideia de que a eleição se jogará numa segunda volta entre a Presidente Dilma Rousseff, que pediu ao povo um segundo mandato para acabar o projecto iniciado por Lula da Silva, e Marina Silva, que se afirmou nesta campanha como a mais formidável das candidatas-surpresa da política brasileira.

Empatadas nas sondagens com 34% das intenções de voto, segundo o instituto Datafolha, as duas entraram no debate nervosas, mas rapidamente mostraram que vinham bem preparadas: seguras, souberam atacar e defender-se com convicção, sem nunca desferir nenhuma estocada fatal. No fim, os analistas declaravam o empate, que serve os propósitos das duas campanhas: nesta fase, o que importa é não cometer erros que possam comprometer a dianteira da corrida e custar votos no futuro.

O candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Aécio Neves, era quem mais precisava de sobressair no debate: em terceiro lugar com 15%, o tucano corre o risco de excluir o seu partido da disputa da segunda volta pela primeira vez na história. Mas a luta (pela sobrevivência) nas sondagens não se reflectiu numa maior acutilância ou agressividade do ex-governador de Minas Gerais – alguns comentadores brasileiros estranharam mesmo a sua “apatia”. “Teve uma performance como a de um jogador que está em campo mas não entra no jogo”, considerou o consultor político Carlos Manhanelli à BBC Brasil.

Segundo resumiu Eliane Cantanhêde, da Folha de São Paulo, “o que se viu foi Dilma e Marina frente a frente, com Aécio tentando sobreviver entre as duas favoritas. Ele centrou fogo em Dilma, deixando à Presidente a missão de bater em Marina. No fim, colocou-se como opção ao ‘fracasso’ do Governo e às ‘contradições’ de Marina”. Mas a estratégia não surtiu efeito: “ficou evidente no debate que o segundo turno [segunda volta] já começou”, e não é com Aécio Neves, concluiu a colunista.

A economia, como se previa, foi o tema dominante no debate. Essas matérias até são o grande trunfo do social-democrata; porém foi Marina Silva quem acabou por capitalizar com a insatisfação e incerteza relativa à conjuntura do país – que entrou já em recessão técnica, depois de dois trimestres consecutivos sem crescimento.

Para piorar a situação, numa análise sobre o estado da corrida antes do debate, o coordenador da campanha social-democrata, José Agripino referiu-se à possibilidade de o PSDB declarar o seu apoio oficial à candidatura de Marina Silva na segunda volta. “O PSB tem afinidades muito antigas connosco, desde o tempo de Eduardo Campos [o presidente do Partido Socialista Brasileiro que morreu num acidente aéreo em Agosto]. O inimigo maior a ser batido é o PT”, vincou.

Alegadamente, Aécio Neves ficou furioso com o “deslize” do seu coordenador de campanha, que tentou corrigir a mão com declarações optimistas depois do debate, mas já não foi a tempo de impedir a especulação na imprensa: atirado para terceiro, em dificuldades perante financiadores e apoiantes, poderá o tucano equacionar uma renúncia em favor de Marina já na primeira volta e voltar-se de novo para o seu reduto de Minas Gerais (onde o candidato do PT, Fernando Pimentel, goza de enorme vantagem na corrida para o governo estadual)?

Num cenário de segunda volta entre Dilma e Marina, o apoio do PSDB à candidata da coligação Unidos pelo Brasil praticamente garante a derrota da actual Presidente. Além de atirar o PT para a bancada da oposição, pode ainda abrir a porta do Governo aos tucanos, que poderiam formar uma aliança para assegurar o apoio parlamentar a Marina Silva – a quem cobrariam a promessa de não buscar a reeleição em 2018. Nessa altura, o PSDB estaria em melhor posição de reconquistar o poder.

O candidato do PSDB espera que o lançamento oficial do seu programa de Governo, na próxima semana, possa ressuscitar a sua campanha e encurtar o intervalo que o separa de Dilma e Marina, voltando a abrir a corrida. Ainda assim, a campanha acabou por avançar logo nesta terça-feira as suas propostas relativas ao tema da segurança pública, algumas das quais polémicas, numa tentativa de criar um novo facto político que desvie as atenções dos rumores de desistência.

Os analistas esperam agora pelos derradeiros debates – nos canais da Record e da Globo, que lideram as audiências televisivas no Brasil – para aferir o estado real da campanha social-democrata. Se Aécio continuar a poupar Marina Silva nas suas críticas, poderá confirmar as teses de um acordo para a segunda volta.

Quem não está a perder tempo para “desconstruir” a candidatura de Marina é o PT. Dilma Rousseff – que tem procurado apresentar uma faceta mais simpática nos vídeos do tempo de antena –, não hesitou em mostrar a sua agressividade no debate, questionando Marina a cada oportunidade. De acordo com a imprensa brasileira, a campanha da Presidente vai começar agora a explorar o pré-sal para tentar neutralizar o crescimento da candidata ecologista. “Dilma Rousseff venderá a ideia de que a rival põe riquezas do país em risco ao deixar a exploração do petróleo em segundo plano”, antecipou a Folha de São Paulo.

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