A foca Martinha desapareceu da baía de S. Martinho do Porto

A foca que durante um mês pernoitou a poucos metros da praia terá regressado ao seu habitat natural.

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A foca Martinha até tem uma página no Facebook DR

Foi avistada pela primeira vez a 23 de Julho, em plena época balnear, por centenas de pessoas. Uma foca entrou na baía de S. Martinho ao fim da tarde e, após várias tentativas, subiu para os insufláveis de recreio e ali pernoitou. De madrugada partiu para fora da barra, mas regressou ao fim da tarde do dia seguinte.

Durante um mês esta foi a rotina da foca que tem o nome científico de Phoca vitulina, mas que rapidamente foi baptizada de Martinha pela população local e veraneantes. A hóspede da baía depressa se popularizou e tem até uma página no Facebook. Um restaurante local não perdeu tempo e até fez t-shirts com a foca para os seus funcionários.

O idílio entre o animal e os humanos instalou-se, mas começou a haver abusos. Apesar dos alertas das autoridades e de os nadadores-salvadores terem indicações para içar a bandeira amarela sempre que a foca aparecesse, algumas pessoas passaram a aproximar-se demasiado da Martinha. Em canoas, em gaivotas a pedal, em barcos e – no pior dos casos – em motos de água.

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) emitiu um alerta para que ninguém se aproximasse da foca pois, apesar do seu ar fofinho, não deixava de ser um animal selvagem e com um comportamento imprevisível face à presença dos humanos. E avisava que uma simples mordidela de uma foca pode ser muito perigosa devido à enorme quantidade de bactérias que estes animais transportam.

Enquanto isto, porém, a Martinha tornava-se mais popular, com direito a reportagens nas televisões e inúmeros admiradores e curiosos que esperavam pelo fim da tarde para a ver chegar à baía. Cansada dos insufláveis, a foca mudou de poiso a dada altura e passou a pernoitar numa estrutura de apoio às motas de água, para onde subia mais facilmente. 

Testemunhas dizem que o animal estaria ferido na barbatana esquerda, na qual chegou a avistar-se sangue, sendo certo que subia sempre para a plataforma pelo seu lado direito.

Mas à medida que nas redes sociais apareciam fotos revelando uma excessiva proximidade das pessoas com a foca (sobretudo por parte das motos de água), levantavam-se as críticas às autoridades por não protegerem devidamente o animal. Houve embarcações que chegaram a embater na plataforma onde a Martinha descansava.

Subitamente, há uma semana, a Martinha deixou de aparecer. Morreu? Cansou-se do bicho-homem ? Ou simplesmente resolveu rumar para os mares da Irlanda onde se supõe que é o seu habitat natural?

A bióloga Catarina Eira, do Centro de Recuperação de Animais Marinhos de Quiaios, diz que a primeira hipótese é a menos provável. A Martinha aparentava estar boa de saúde e devidamente nutrida, pois todos os dias atravessava a barra e ia ao mar alto alimentar-se. A sua partida, acrescenta, encaixa num comportamento típico de um animal que se desorientou no mar e usou temporariamente uma zona para descansar até regressar ao seu habitat natural.

Para esta investigadora da Universidade de Aveiro o comportamento das autoridades foi o adequado e o possível. “Estava fora de questão capturar o animal”, disse ao PÚBLICO, explicando a dificuldade de uma acção dessas em cima de uma estrutura instável e com um animal em bom estado.

A maioria das focas que são capturadas, tratadas e devolvidas ao mar, dão à costa doentes ou subnutridas e é fácil resgatá-las. Mas este não era o caso da Martinha, que se mexia bem. Por outro lado, é impossível capturar um animal destes com um dardo anestesiante porque, sendo um mamífero, fugiria ao sentir a picada e acabaria por morrer afogado. 

Ainda assim foram feitas duas tentativas de captura que não resultaram, preferindo as autoridades jogar na prevenção e avisar as pessoas para não se aproximarem. Já a eficácia com que esta medida foi cumprida é que pode ter deixado a desejar. A medida tecnicamente mais correcta (e radical) para proteger o animal seria interditar toda a baía a banhos e à navegação. Mas Catarina Eira diz que compreende a opção por uma medida mais equilibrada e menos lesiva para as pessoas em plena época balnear.

O PÚBLICO apurou, entretanto, que o ICNF ponderava montar uma operação para capturar a foca, mas a Martinha – cansada ou não dos banhistas e condutores de motos de água mais ousados – antecipou-se e foi-se embora pelos seus próprios meios.

“Ela tinha bom feitio, tendo em conta algumas fotos que eu vi. Já aqui [Quiaios] tivemos algumas que não eram nada assim”, concluiu a investigadora.

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