Pais dos estudantes que morreram no Meco apresentam queixa contra procurador

Acusam-no de mentir por ter dito que o médico assumiu erro clínico, mas nas inquirições nada consta. Médico não diagnosticou hipotermia, compatível com pré-afogamento, o que volta a lançar questão da responsabilidade criminal.

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Os pais dos seis estudantes que morreram na praia Meco apresentaram uma queixa contra o procurador que arquivou o processo sem arguidos constituídos. A informação, veiculada na noite desta quinta-feira pela TVI, foi confirmada pelo PÚBLICO junto de alguns dos progenitores.

Os pais acusam o magistrado Moreira da Silva, do Ministério Público de Almada, de mentir e querem que esclareça publicamente por que razão afirmou que o médico que assistiu o dux João Gouveia na noite da tragédia admitiu ter-se enganado no diagnóstico que tinha feito ao único sobrevivente.

“É preciso que se saiba o que se está a passar neste processo e a forma como está a ser conduzido. O médico tem uma larga experiência. Não se retractou como o procurador disse para com isso arquivar o processo”, disse ao PÚBLICO Fátima Negrão, mãe de Pedro Negrão, uma das vítimas mortais.

Nas inquirições, segundo a TVI, não se lê que o clínico admitiu o erro. Pelo contrário, quando ouvido pela segunda vez, reafirmou que o sobrevivente não entrou no Hospital Garcia de Orta com sintomas de hipotermia, segundo noticiou aquela televisão.

Em causa está se João Gouveia esteve ou não numa situação de pré-afogamento, ou, não tendo estado, se esteve afinal numa zona segura, fazendo relançar a questão se poderá ter ou não alguma responsabilidade criminal na situação.

Quando foi ouvido pela primeira vez, o médico da urgência disse que João Gouveia se queixou de dores de cabeça, pelo que lhe medicou Paracetamol. Na reinquirição, voltou a explicar que o medicou da mesma forma e que entendeu que a auscultação do corpo seria suficiente.

No despacho de arquivamento, o procurador diz que os profissionais de saúde que socorreram o sobrevivente na praia “puseram a nu” a actuação do médico de urgência, que, por seu turno, admitindo que atropelou as boas práticas, veio aos autos, em reinquirição, fazer o mea culpa clínico”.

O procurador diz ainda no documento que “nesta etapa da avaliação da prova reunida adquirirá sentido absurdo questionar o estado de hipotermia vivenciada pelo dux [João Gouveia], já que foi encontrado quase morto na areia (…) encharcado, com claros vestígios de fluidos orgânicos (vómitos), além de danos em peças de vestuário característicos da imersão em líquido, tendo sido sujeito a medicação logo na praia, registando 34º, num patamar de quase falência vital”.

Os investigadores consideram que ficou suficientemente indiciado que o fim-de-semana no Meco se destinou, efectivamente, à realização de uma praxe académica. Descartam, porém, a possibilidade de o ritual ter tido os contornos de submissão a João Gouveia que muitos pretendem ver provado, nomeadamente as famílias. 

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