Alguém que dê a cara na crise do BES

Ninguém assumiu a paternidade das contas do Banco Espírito Santo. Mas alguém as deveria explicar.

O Banco Espírito Santo (BES) apresentou esta quarta-feira os resultados do primeiro semestre e, ao contrário do que é habitual, não houve uma conferência de imprensa para explicar as contas. É natural que a nova administração liderada por Vítor Bento não quisesse assinar e muito menos aparecer associada a resultados que reportam a um período (Janeiro a Junho) em que não tinha nenhuma responsabilidade na gestão do banco. Um período negro na história do BES, a julgar pelos prejuízos de 3,6 mil milhões de euros.

Vítor Bento e a nova equipa de gestão do BES limitaram-se a emitir um comunicado em que explicam que estão a preparar um plano para recapitalizar o banco e ainda um programa estratégico de reestruturação. É pouco. Para tentar evitar a queda abrupta das acções e para acalmar os clientes é preciso que alguém apareça e dê a cara. Vítor Bento carrega consigo uma imagem de credibilidade e foi também por causa disso que o Banco de Portugal o aceitou como presidente do BES num momento tão delicado. Se fosse para ficar na sede do banco na Avenida da Liberdade a analisar as contas, mais valia ter-se contratado uma empresa de contabilidade. Mais do que dinheiro, o que o banco precisa urgentemente neste período é de uma injecção de confiança.

O mesmo se poderia pedir e exigir ao governador do Banco de Portugal que, depois de ter anunciado que o BES tinha uma almofada de capital suficiente para poder arcar com os prejuízos, se viu obrigado a mudar de discurso. E também não chega Carlos Costa fechar-se num escritório na Rua do Comércio e emitir um comunicado. É preciso dar a cara e enviar uma mensagem de tranquilidade. A queda superior a 40% das acções nesta quarta-feira foi um sinal de alerta.

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