Susana Travassos canta Mercedes Sosa nas noites do B.Leza

Cantora portuguesa que tem feito carreira no Brasil dedica um espectáculo ao reportório de Mercedes Sosa. Estreia esta quarta-feira no B.Leza, às 22h.

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Susana Travassos Alfredo Matos

A primeira vez que Portugal ouviu falar de Susana Travassos como cantora foi em 2008, num disco de tributo a Elis Regina chamado Oi Elis. Nascida no ano em que Elis morreu (1982), Susana ouviu o disco dela ao vivo em Montreaux quando tinha 17 anos e não parou mais. Agora, ainda com Elis no pensamento, presta tributo a Mercedes Sosa, num espectáculo que nasceu de uma brincadeira e se tornou um caso sério.

Algarvia de Vila Real de Santo António, Susana aprendeu acordeão e piano ainda na infância mas foi em Lisboa que começou a cantar. Até que, numas férias em Cuba, lhe sugeriram que fosse estudar canto. Foi para o Hot Clube, esteve lá três anos, mas como começava a sentir-se limitada pelo jazz, partiu noutras direcções. “Resolvi”, como disse ao PÚBLICO em 2008, “começar a cantar em bares e festas, coisas brasileiras, boleros, música do mundo.” O disco dedicado a Elis (onde, contrariando o título, ela canta sem sotaque brasileiro) surge já depois de muita rodagem e muitas audições, do jazz ao fado, à música africana, brasileira, portuguesa ou árabe.

E, logo de seguida, surge o Brasil lugar de novas descobertas, novas amizades, novas músicas. De tal modo que o seu segundo CD, Tejo Tietê, foi lançado apenas no Brasil (pela Delira Música), em 2013, e continua inédito em Portugal. Gravado em parceria com Chico Saraiva e produzido por Paulo Bellinati, inclui canções de Luiz Tatit, Tiago Torres da Silva, Elomar, José Peixoto e Pedro Ayres Magalhães, além de versões de temas de Alain Oulman, Heitor Villa-Lobos e Carlos Paredes. E tem notas introdutórias de JP Simões e de Elomar, este com um texto onde exalta a “belíssima e impressionante voz de Susana, mezzo-melano, que com segurança mergulha nas regiões abissais em perder a feminilidade”. Susana gravou dois videoclips na Casa dos Carneiros de Elomar, em Vitória da Conquista, um dos quais, O Tamanho da Tristeza, já está no Youtube e pode ser visto aqui:

De Elis a Mercedes Sosa
A ideia de um espectáculo baseado em Mercedes Sosa não foi dela, foi-lhe sugerida. “Não foi uma coisa que eu planeei, foi uma proposta do [guitarrista] Gabriel Godói. Às quartas-feiras temo-nos encontrado, eu, ele e vários outros músicos, no Steps, em Santa Apolónia. Sentamo-nos à mesa, com os instrumentos, é uma tertúlia espectacular. Um dia, começámos a cantar algumas músicas da Mercedes Sosa e vimos que estava ali uma coisa interessante para se fazer.” Gabriel Godói disse-lhe então que ouvia Mercedes Sosa desde criança e que há muito tinha vontade de fazer um trabalho sobre as suas canções. E perguntou-lhe: “Não queres fazer?” Ela aceitou, por Mercedes Sosa mas não só. “Ouvi bastante, mas mais do que ela impôs-se o idioma. Eu sou de Vila Real de Santo António e para mim o castelhano é uma coisa muito próxima. Eu via os desenhos animados todos em castelhano, o idioma é-me muito familiar. E o meu avô, que era um cantor amador, cantava os tangos de Gardel. Por exemplo: eu gosto muito da Violeta Parra, que é uma das compositoras que a Mercedes Sosa cantou, e gravou. E dos poetas que a rodearam, como o Pablo Neruda.” Tudo isto levou-a a embrenhar-se no trabalho.

E não foi há um ano, foi há um mês. “O Gabriel mandou-me algumas sugestões e eu depois fui pesquisar e apaixonei-me logo pelas canções.” Com muitas por onde escolher quiseram, ambos, “ir pelo menos óbvio.” Entre as escolhidas há Canción para un niño en la calle ou Balderrama (“que foi a canção de homenagem ao Che Guevara”).

A pressa impôs-se mas não os atrapalhou. “Às vezes temos um projecto que queremos pôr de pé e leva um ano, mas desta vez foi tudo muito rápido. São, ao todo, quinze canções e com Susana Travassos (voz) estarão Francesco Valente (contrabaixo), Ruca Rebordão (percussão) e Gabriel Godói (guitarra e direcção musical). Além de Eugénia Melo e Castro, como convidada. “Somos amigas. A primeira vez que eu fui para o Brasil, em 2009, e que me apresentei no Sesc Pompeia com o Zeca Baleiro, a Eugénia foi assistir ao espectáculo e foi-me cumprimentar ao camarim. E começou aí a nossa amizade. Agora, quando eu lhe contei que ia fazer este concerto, ela disse-me que adorava a Mercedes Sosa e eu convidei-a e vir também.” Eugénia vai cantar, com Susana, duas canções: Volver a los 17 (da autoria de Violeta Parra) e Todo cambia.

Além de Eugénia, haverá outra participação especial, “de última hora”: José Barros, o fundador dos Navegante. “Também o conheci na mesa do Steps, às quartas-feiras.” Participará também em duas canções: Alfonsina y el mar e Como la cigarra.

Agora, aquilo que começou “como uma brincadeira” começa a ganhar corpo de projecto “sério”. A estreia absoluta é esta quarta-feira, 30 de Julho, às 22h, no B.Leza (com entradas a 5 euros), mas Susana já se imagina a levá-lo a outros palcos, porque no seu Facebook, sobretudo a partir do Brasil, já lhe começaram a perguntar quando é que ela levará o espectáculo até lá. “Vi, pelas reacções das pessoas, que despertou interesse. Recebi mensagens assim: ‘Ah, não estou aí mas gostava tanto de ouvir’. A Mercedes Sosa no Brasil, e na América Latina toda, teve e tem uma importância muito grande.”

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