Alegadas agressões em treinos da PSP investigadas por três organismos

Agentes terão agredido sete formandos perante alegada passividade do oficial que assistia. O chefe que os denunciou terá sido afastado.

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Decorre um processo dentro da própria PSP

O treino chamava-se Red Man e integrava o curso para agentes das Equipas de Intervenção Rápida do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP. Terá sido durante este exercício que dois formadores terão alegadamente desferido murros e agredido colegas que estavam a receber formação e terão ido parar ao hospital. Os agentes alegadamente agredidos pediram apoio à Associação Sindical da PSP e o dirigente desta estrutura garante que, quando viu as fotografias “do estado em que ficaram os colegas”, ficou “preocupado” e foi feita uma denúncia à Inspecção-Geral da Administração Interna (IGAI).

“Era um caso grave”, diz Paulo Rodrigues. Para além da IGAI, decorrerá também um processo disciplinar interno na própria PSP e um outro processo-crime em curso no Ministério Público.

O episódio, noticiado neste sábado pelo Expresso, remonta a Abril do ano passado e, apesar de já ter passado um ano, Paulo Rodrigues não conhece até à data quaisquer desenvolvimentos ou conclusões sobre o caso.

“Nós fizemos o nosso papel, enquanto sindicato. Foram-nos relatados factos, os agentes são nossos associados e, mesmo que não fossem, nós vimos as fotos e ali alguma coisa não estava bem. Foi o sindicato que apontou uma denúncia à IGAI há quase um ano. Nós temos vindo a tentar acompanhar esse processo, a IGAI estaria a fazer diligências para apurar a verdade, mas oficialmente ainda não nos foi comunicado nada”, conta Paulo Rodrigues.

O que o sindicalista diz saber é que os dois alegados agressores e o oficial que terá assistido a tudo sem supostamente nada fazer continuarão a dar formação, enquanto o chefe da Equipa de Intervenção Rápida em questão — e que denunciou o caso — terá sido, na altura, afastado do posto. Este chefe terá acompanhado os agentes ao hospital, reunido fotografias, bem como o relatório médico, e apresentado depois a denúncia ao Comando Metropolitano de Lisboa.

“Os três [alegados agressores e o oficial] continuam na polícia, o chefe foi retirado do lugar e passou, primeiro, para o serviço administrativo e agora, recentemente, para supervisor de uma esquadra em Lisboa, mas continua fora da Equipa de Intervenção Rápida. Não percebemos porquê, porque o chefe agiu bem. Não é que seja uma despromoção, mas mudá-lo de lugar foi uma punição, porque ele queria estar a comandar a equipa”, alega Paulo Rodrigues.

As equipas de intervenção rápida pertencem às divisões da PSP e, neste caso, os agentes que estavam a receber formação eram da 4.ª divisão. O treino aconteceu nas instalações da Unidade Especial de Polícia, em Belas, mas apenas por ser um local mais espaçoso e não porque esta unidade tenha algo a ver com aquela formação.

Segundo o que foi relatado ao dirigente sindical na reunião que teve com os agentes alegadamente agredidos, seriam sete os polícias que estariam a receber formação, para além do chefe que os levou ao hospital. Apesar de só dois terem recebido tratamento hospitalar, os restantes cinco também terão sido vítimas de agressão, embora sem necessidade de tratamento médico. Já os que foram ao hospital, segundo informações dadas nessa reunião com Paulo Rodrigues, terão sofrido hematomas e equimoses, tendo um dos agentes supostamente ficado com a visão afectada, cerca de uma semana depois do episódio.

Ainda no mesmo encontro com Paulo Rodrigues, os polícias explicaram ao sindicalista que, no treino em questão, o que é pedido é que os formandos neutralizem, com um bastão de espuma, um indivíduo descontrolado, papel este que seria assumido pelos formadores, que estariam protegidos com um capacete com viseira, luvas de boxe e um fato normalmente usado em treinos com cães. Já os formandos usariam um colete.

A denúncia já terá sido feita não só ao IGAI pela estrutura sindical, mas também ao Ministério Público pelos próprios agentes supostamente agredidos, estando os processos a decorrer. O PÚBLICO tentou contactar a Procuradoria-Geral da República e o Ministério da Administração Interna, mas sem sucesso. Já o porta-voz da PSP, Paulo Flor, escusou-se a prestar informações sobre o caso, alegando que o assunto foi encaminhado para as entidades competentes — Ministério Público e IGAI.

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