Nem tanto ao mar, nem tanto à terra

Afinal quem é o responsável pelo sucesso de Portugal no regresso aos mercados?

Portugal regressou ontem aos mercados, sem a muleta de um sindicato bancário, o que acontece pela primeira vez desde que o país foi sujeito ao programa de resgate. É verdade que o montante vendido foi reduzido, logo já se sabia que seria facilmente absorvido pelo mercado. Mas isto não é razão para menorizar o sucesso da operação. Portugal financiou 750 milhões de euros a juros de 3,575%. É bom recordar que pouco antes do pedido de ajuda externa à troika, num leilão de dívida comparável, Portugal pagou 6,72%. Aliás, é preciso recuar a 2005 para encontrar uma colocação com um juro tão baixo.

Ontem, o The Wall Street Journal dizia que o sucesso do leilão português se devia mais ao BCE e à promessa de Mario Draghi de que iria fazer tudo para preservar a integridade da zona euro, do que propriamente ao nosso mérito. O líder do PS, António José Seguro, alinhou pelo mesmo discurso, dizendo que o resultado do leilão se deve ao excesso de liquidez que existe no mercado e ao reforço do papel do BCE no combate à especulação. Já Passos Coelho, reagindo ao sucesso da venda, disse que “não estamos à beira do céu, mas temos uma inversão de ciclo assinalável”.

É caso para dizer, nem tanto ao mar, nem à terra. Dizer que a confiança que os credores estão a mostrar em relação à dívida pública portuguesa se deve apenas ao papel do BCE e à liquidez que abunda nos mercados é menosprezar os sacrifícios de ajustamento que foram feitos pelos portugueses nos últimos três anos.  Dizer que estamos a assistir a uma “inversão de ciclo assinalável” também é manifestamente exagerado. Como lembrava ontem o The Wall Street Journal (e, nesta parte, bem) a nossa dívida pública tem uma dimensão tal que se os investidores desconfiarem que o Mario Draghi está a fazer bluff, Portugal pode voltar a sucumbir à pressão dos mercados.
 

  



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