Painel de azulejos de Fernando Lanhas vai dar as boas-vindas a quem entra no Túnel da Ribeira

A obra do pintor e arquitecto ficará instalada na entrada nascente do túnel, perto do painel Ribeira Negra, de Júlio Resende. O túnel vai ser reabilitado durante três meses, numa obra com arranque previsto ainda para Fevereiro.

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O painel de Lanhas vai ficar a curta distância do de Júlio Resende Paulo Pimenta

O Túnel da Ribeira, no Porto, vai entrar em obras e, de presente, vai ganhar um painel de azulejos criado por Fernando Lanhas. A obra estava encaixotada em instalações da Santa Casa da Misericórdia, depois de um período de armazenamento na Cooperativa Árvore, e foi agora resgatada pela Câmara do Porto, para ser colocada na entrada nascente do túnel. A proposta que confirmará a doação da obra, por parte da família do arquitecto e pintor, ao município, deverá ser aprovada na reunião do executivo da Câmara do Porto da próxima semana.

O vereador da Cultura, Paulo Cunha e Silva, diz que a colocação do painel no túnel – ele mesmo da autoria de Fernando Lanhas – será “uma intervenção importante” e que marca o arranque de um programa mais vasto que quer implementar no Porto. “Temos um programa de arte pública muito ambicioso para a cidade, a que daremos início com esta intervenção”, sustenta o vereador.

O programa global precisa ainda de financiamento, ressalva Paulo Cunha e Silva, mas o vereador já sabe em que área da cidade gostaria de o ver crescer. “Parece-me que o caminho óbvio para a arte pública seria aquele que parte da Avenida dos Aliados e desce até ao rio Douro, com passagem pela Estação de S. Bento e da Rua das Flores. É um percurso que atravessa o Património Mundial, que seria assim partilhado com um conjunto de obras da arte contemporânea, o que me parece particularmente pertinente”, diz.

Para já, o primeiro passo será dado com a colocação de um painel abstracto de Fernando Lanhas, composto por 875 azulejos, e idealizado para o local que vai agora ocupar. O vereador da Cultura salienta que na entrada do túnel existe “uma depressão”, pensada para acomodar a obra de grandes dimensões (tem 7,10 metros de largura e 5,10 metros de altura), concretizada em azulejo há cerca de dois anos, a partir de um desenho a óleo do artista, falecido em 2012. “O painel ficou concluído já depois da morte do Fernando Lanhas. Sei que se chegou a pensar na possibilidade de o colocar noutro espaço, mas achamos que devíamos colocá-lo ali, para onde foi pensado”, argumenta Paulo Cunha e Silva.

A obra de Fernando Lanhas vai ficar instalado a curta distância do painel Ribeira Negra, de Júlio Resende, que decora a parede que leva à entrada do túnel, mas o vereador da Cultura acredita que as duas peças de arte urbana não serão incompatíveis. “A obra de Fernando Lanhas é completamente abstracta, a de Júlio Resende é mais narrativa, mais expressionista. Penso que vão coabitar muito bem, apesar de serem exercícios muito diferentes”, defende.

O vereador afirma que a concretização deste projecto foi conseguida graças à colaboração dos vereadores do Urbanismo, Manuel Correia Fernandes, e da Mobilidade, Cristina Pimentel, e aproveitando o momento único da intervenção mais vasta no túnel, que deverá arrancar ainda este mês.

A reabilitação do túnel da Ribeira é uma obra que foi lançada pelo anterior executivo e que chegou a estar prevista para o Verão passado – o que foi, na altura, muito criticado por comerciantes da Ribeira e pelo executivo de Gaia, liderado por Luís Filipe Menezes. Os trabalhos acabaram por ser adiados e o seu custo foi reavaliado. O investimento inicialmente previsto de 675 mil euros transformou-se em apenas 450 mil euros, incluídos no orçamento para 2014.

Os trabalhos contemplam a substituição de condutas de água que passam no local e a requalificação total do espaço, incluindo a limpeza e pintura das paredes e a repavimentação do piso.

A duração prevista da obra é de três meses e o túnel não vai encerrar ao trânsito, apesar de estarem previstos fortes condicionamentos (nomeadamente com o recurso à circulação alternada) durante esse período e de poderem ocorrer “cortes pontuais”. Desta vez, as questões relacionadas com a obra foram acordadas entre as autarquias de Porto e Gaia, e os munícipes de ambas as margens serão informados dos condicionamentos de trânsito em carta conjunta das duas autarquias.
 

O pintor e arquitecto Fernando Lanhas nasceu no Porto em 1923 e morreu em Fevereiro de 2012. Paulo Cunha e Silva define-o como “um artista fundamental e uma personagem absolutamente multidisciplinar” da cidade, pelo que entende que a instalação do seu painel no Túnel da Ribeira deverá ser encarada como “uma homenagem que faz todo o sentido”. E que o vereador não quer que termine por aqui. “Vamos tentar fazer uma exposição com o trabalho de Fernando Lanhas, nos Paços do Concelho, na mesma altura em que for inaugurado o painel”, revela. Além da pintura e da arquitectura, Lanhas interessou-se também pela antropologia e etnografia, e foi mesmo director do Museu de Etnografia do Porto

 

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