Défice grego cai 34%, mas negociações com a troika continuam sem fim à vista

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Mario Draghi recebeu o chefe do Governo grego na sede do Banco Central Europeu Foto: Alex Domanski/ Reuters (arquivo)

A Grécia conseguiu, nos primeiros oito meses do ano, uma redução significativa do seu défice orçamental - cerca de 34% -, mas as negociações com a troika com vista à libertação de uma nova tranche de ajuda financeira continuam em banho-maria.

Ontem, o primeiro-ministro grego reuniu-se com o líder do Banco Central Europeu (BCE). Antonis Samaras tentou junto de Mario Draghi encontrar entendimentos que flexibilizem as exigências dos credores internacionais.

Quando, pela manhã, viajou para Frankfurt, Samaras já tinha consigo os números mais recentes da execução orçamental grega. O relatório do Ministério das Finanças mostra que, de Janeiro a Agosto, o défice da administração pública caiu para 12,4 mil milhões de euros - abaixo dos 18,7 mil milhões de euros apurados no mesmo período de 2011.

O recuo foi de 34%, mas poderia ter ido mais longe se não tivesse acontecido uma redução de 1,6% no total das receitas do Estado, nomeadamente porque muitos gregos não conseguiram pagar os acertos a que eram obrigados nas contas do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares (IRS). Segundo o ministério, só aqui ficaram por entrar nos cofres quase 300 milhões de euros.

A esperança do ministro das Finanças para aumentar a colecta fiscal é conseguir um acordo com o Governo suíço para taxar os muitos milhares de milhões de euros que muitos gregos têm nos bancos helvéticos.

Na reunião com Draghi, privada e sem conferência de imprensa posterior, Antonis Samaras conseguiu arrancar um comunicado conjunto em que se diz que a Grécia tem trabalhado no sentido de garantir a consolidação orçamental.

"As duas partes concordam que a Grécia deu já passos importantes no sentido de uma consolidação orçamental e da modernização da sua economia. Mas muitos desafios ainda se mantêm", lê-se no comunicado conjunto emitido após o encontro de ontem.

O texto assinala, ainda, que o primeiro-ministro grego se comprometeu, perante Mario Draghi, a "recolocar o programa de ajustamento económico-financeiro nos eixos e a continuar as reformas necessárias para que a Grécia recupere a sua competitividade e confira às suas finanças públicas uma base sólida".

O cerne da questão está aqui. Samaras foi tentar junto de Mario Draghi uma maior flexibilidade da troika nas negociações com o seu Governo. Mas não é certo que tenha conseguido grandes resultados, num momento em que se assinalam crescentes divergências entre as duas partes.

Ontem, o jornal grego Ekathimerini dava conta de que continua a haver desacordo sobre a natureza dos cortes que o Governo de Atenas tem de produzir para que seja libertada a nova tranche de ajuda financeira - no valor de 31,5 mil milhões de euros. O tempo urge, porque no próximo mês a Grécia não terá dinheiro para suprir os seus compromissos.

Para que o dinheiro entre nos cofres do Estado, é preciso que o Governo ponha em prática um programa de ajustamento de 11,5 mil milhões de euros. Mas a edição electrónica do Ekathimerini afirmava ontem que há pelo menos intenções de corte no valor de seis mil milhões de euros que os delegados da troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia) rejeitaram.

Neste pacote estão os 2,2 mil milhões de euros que o Governo grego se propõe reduzir na área da função pública, mas que os delegados da troika consideram não estarem devidamente pormenorizados quanto à sua efectiva aplicação. A troika exige que os funcionários dos serviços que venham a ser fechados sejam despedidos, enquanto o Governo prefere um programa de rescisões voluntárias no sector público.

Também os 500 milhões de euros que Antonis Samaras se propõe cortar no financiamento das autarquias merece as maiores dúvidas por parte dos credores internacionais. Bem como os cerca de 440 milhões de euros a retirar ao orçamento das Forças Armadas, que não convencem a troika.

Numa reacção a este compasso de espera nas negociações, o ministro das Finanças Yannis Stournaras, afirmou que o Governo grego está a tentar convencer os credores dos seus argumentos. "Os esforços continuam."

As divergências que se vão evidenciando nas negociações com os credores internacionais reflectem as dificuldades de entendimento no seio da coligação governamental - a Nova Democracia, o PASOK e os Democratas de Esquerda. Principalmente os cortes no serviço público e a redução de funcionários no Estado têm contribuído para abrir brechas no arco governamental.

A situação grega será um dos temas da reunião informal dos ministros das Finanças do Eurogrupo, que se realiza depois de amanhã, em Chipre.

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