Julian Assange acusa EUA de "caça às bruxas"

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Assange falou a partir da varanda da embaixada do Equador Olivia Harris/REUTERS

A partir de uma varanda da embaixada do Equador em Londres, o fundador da WikiLeaks, Julian Assange, pediu ao Governo dos Estados Unidos para respeitar a liberdade de expressão e parar com a sua investigação à fuga de informação que culminou com a publicação de milhares de documentos secretos do Pentágono e Departamento de Estado, em 2010.

O jornalista e activista, que está refugiado há dois meses nas instalações da missão diplomática do Equador, classificou o processo como “uma caça às bruxas” e exigiu a libertação do soldado norte-americano Bradley Manning, detido numa prisão militar do Kansas e acusado de traição.

“Bradley Manning é um herói”, reclamou Assange, perante o aplauso de dezenas de apoiantes, que desde a manhã aguardavam na rua pela sua intervenção, vigiados por um forte dispositivo policial.

“Os Estados Unidos têm uma escolha a fazer: reafirmar os valores revolucionários que estiveram na fundação do país, ou cair no precipício e arrastar-nos a todos para um mundo opressivo e perigoso, em que os jornalistas se calam por medo de acusação e os cidadãos se limitem a sussurrar”, declarou Assange.

“Peço ao Presidente Obama que tome a decisão correcta e acabe com esta caça às bruxas”, prosseguiu. Mas o seu apelo foi mais além, e incluiu o “respeito pela liberdade de expressão” e o fim da alegada “perseguição” a jornalistas e whistleblowers (fontes que denunciam segredos) que põem em causa as versões oficiais dos governos. “Não pode haver mais conversa fiada de acusar organizações jornalísticas, seja a WikiLeaks ou o New York Times”, sublinhou.

Julian Assange não se pronunciou sobre o braço de ferro diplomático com o Equador – que na quinta-feira aprovou o seu pedido de asilo diplomático –, ou as exigências dos Governos do Reino Unido e da Suécia para que seja detido. O fundador da WikiLeaks, que viveu sob prisão domiciliária em Londres até perder um derradeiro recurso contra um pedido de extradição da Suécia, foi convocado para prestar declarações por um tribunal de Estocolmo, depois de uma queixa por alegados crimes sexuais apresentada por duas mulheres na Suécia.

No entanto, o australiano referiu-se à ameaça do ministério dos Negócios Estrangeiros britânico de “invadir” a embaixada do Equador, dizendo que só a vigília dos seus apoiantes à porta das instalações impedira o Governo do Reino Unido de “atirar os princípios da Convenção de Viena pela janela”.

Na rua (e supostamente dentro do edifício), dezenas de polícias estavam preparados para deter Assange no caso de este transpor os limites do apartamento ocupado pela missão diplomática e que é equiparada a território equatoriano. Assange disse ter uma “dívida de gratidão” com o pessoal da embaixada, com o Presidente Rafael Correa e a “pequena nação do Equador” que “corajosamente” tem defendido o seu direito ao asilo político.

Antes de Assange, o jurista e antigo juiz anti-corrupção espanhol Baltasar Garzón, que lidera a equipa jurídica encarregada da defesa do fundador da WikiLeaks, confirmou ter recebido instruções para “levar a cabo todas as medidas legais para proteger os direitos da WikiLeaks, de Assange e de todos os que estão sob investigação”.

Garzón disse ainda que Julian Assange não manteve quaisquer negociações com as autoridades suecas para evitar uma eventual extradição para os Estados Unidos no caso de viajar até Estocolmo para prestar declarações.

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