Professores saem à rua contra a ameaça do desemprego

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A greve dos professores não terá serviços mínimos Nuno Ferreira Santos

Nesta quinta-feira, quando se aproximarem as 15h, "logo se verá" quantas pessoas aderiram à manifestação convocada pela Federação Nacional de Professores (Fenprof).

Mas "sejam mais uns milhares ou menos uns milhares" a encher o Rossio, em Lisboa, de uma coisa Mário Nogueira, o secretário-geral da Fenprof, diz estar certo: "O protesto nunca será tão grande que consiga ilustrar plenamente o desânimo, a descrença e o medo do futuro que se vive nas escolas".

Apesar de a situação descrita pelos sindicatos ser muito mais grave do que a que se vivia nos tempos da ministra Maria de Lurdes Rodrigues, ninguém espera uma manifestação que faça lembrar, sequer, a que, em 2008, juntou mais cem mil professores em protesto. "As coisas não são assim tão simples. A ministra era provocadora, contribuiu de forma dramática para a desvalorização social dos professores. Agora, mais do que de revolta, a sensação é de esmagamento", descreve Nogueira.

Manuel Pereira, presidente da Associação de Dirigentes Escolares, confirmou que o clima nas escolas "é pouco propício a protestos", dizendo que "as pessoas estão, principalmente, angustiadas, quase paralisadas".

A Fenprof prevê a extinção de 25 mil horários, o que significa o desemprego de "praticamente todos" os professores contratados e a criação de "milhares de horários zero". Manuel Pereira confirma que "a situação é aflitiva". "Este ano, em cada agrupamento são dezenas e dezenas de horários zero de pessoas com muitos anos de carreira, com uma vida estável, numa escola, e que de um dia para o outro se apercebem de que têm de ir a concurso por falta de componente lectiva", confirma.

A situação resulta da conjugação de várias medidas, como a criação de 150 mega-agrupamentos, o aumento do número de alunos por turma e a revisão da estrutura curricular. Mário Nogueira está convicto de que "a catástrofe" surpreendeu o próprio Ministério da Educação e Ciência (MEC). "Vamos assistir à situação absurda que é ter turmas de 30 alunos e professores na escola sem componente lectiva", prevê. Hoje, deverá reclamar que a tutela tome medidas "que ainda possam minorar os estragos" .

Os professores que têm acumulado contratos anuais para substituir necessidades que os sindicatos consideravam permanentes e o MEC definia como provisórias, poderão ter alguma expressão no protesto. Com T-shirts pretas e folhas de papel a indicar o número de contratos que já detêm com o MEC, os docentes vão reclamar "o direito ao vínculo" pelo qual tencionam lutar, também, nos tribunais. "Temporário? 12 anos", exemplifica César Paulo, administrador da página de Facebook que deu origem ao Movimento pela Vinculação dos Professores Contratados.

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