Novo bastonário dos enfermeiros quer acabar com o “desperdício” na saúde

Germano Couto é o novo bastonário da Ordem dos Enfermeiros, eleito com maioria absoluta para um mandato durante o qual que combater a “desmotivação” e “agonia” da profissão e para acabar com o “desperdício” na saúde.

“Queremos uma ordem que seja mais interventiva, que tenha uma visibilidade muito mais afincada na sociedade, porque dessa forma também a profissão o terá. Queremos que a ordem se modernize em alguns aspectos e aproximá-la aos enfermeiros que é algo que não tem existido nos últimos anos”, salientou hoje à Lusa o enfermeiro de 39 anos, especialista em saúde materna e obstétrica.

Durante os meses da sua campanha pelo cargo de bastonário, Germano Couto percorreu o país e foi sentindo o pulsar dos enfermeiros que, notou, “andam muito desmotivados pela conjuntura social” e pela “conjuntura profissional”.

É que “a profissão de enfermagem tem sido relegada para segundo plano pelo poder político, desde o aspecto remuneratório ao não reconhecimento da importância da profissão e dos ganhos em saúde que reflectem para a sociedade”.

“Desânimo” e “revolta” são os sentimentos de uma classe profissional “em agonia” que, diz Germano Couto, “investe na sua profissão para depois não ter retorno”, sendo considerada uma “despesa para as instituições de saúde” por oposição aos médicos “pagos a peso de ouro”.

Por esse motivo, o agora bastonário critica a “base de financiamento que está distorcida em Portugal” que tem o estado a financiar “as instituições acima de tudo pelo trabalho que desenvolve uma classe profissional e não todos os profissionais de saúde”, causando “enviesamentos quanto aos objectivos a serem atingido”.

“Portugal tem de acordar, acabar com estes lobbies instalados, estes interesses de determinados grupos económicos e temos de pensar quais as melhores estratégias”, salienta o também professor universitário para quem “não há dúvida nenhuma que investindo nos enfermeiros estamos a rentabilizar” os impostos.

Em análise aos cortes na saúde, admitiu-se preocupado e sugeriu que o país deve “ver como pode manter os níveis”, cortando “no desperdício” que existe com a “falta de rentabilização dos recursos humanos”.

“É preciso que haja humildade, pelo Ministério da Saúde e pelas entidades gestoras para que aceitem de uma vez por todas que os enfermeiros são aqueles profissionais que estão mais bem preparados para combater o desperdício”, sublinhou o novo bastonário dos enfermeiros.

Quanto ao aumento das taxas moderadoras, Germano Couto admitiu que a medida irá “dissuadir muitas falsas urgências, quer a nível hospitalar quer a nível dos centros de saúde” considerando porém que “o princípio da saúde tendencialmente gratuita” seja assim “posto em causa” e que “não é dessa forma” que se irá diminuir o défice.

Defendeu ainda que “não há falta de hospitais em Portugal” mas sim uma “localização errada”, embora uns existam que “não deviam estar de portas abertas” como o Maria Pia no Porto que é “um perigo para a sociedade, para o cidadão e mesmo do ponto de vista estrutural”.

Com a sua candidatura “Enfermagem em Primeiro” Germano Couto ganhou a 12 de Dezembro as eleições para o bastonário, vencendo a nível nacional (contra três candidatos) e nas cinco secções regionais (Norte, Centro, Sul, Madeira e Açores). A tomada de posse está marcada para a terceira semana de Janeiro.

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