Cerca de 2.000 migrantes desaparecidos durante travessias no Mediterrâneo

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Barcos estão, na maioria, sobrelotados e não têm condições sanitárias Str/Reuters

Cerca de 2.000 pessoas desapareceram este ano ao tentar atravessar o Mediterrâneo, segundo uma investigação, realizada por uma senadora holandesa, a pedido do Conselho da Europa, e divulgada nesta quarta-feira em Roma.

Tineke Strik levou a cabo, a pedido do Conselho da Europa, uma investigação sobre as mortes de migrantes em naufrágios no Mediterrâneo, em Abril e Maio, e também sobre a falta de condições e segurança. Debruçou-se sobretudo num caso noticiado na imprensa, em Maio, referente à morte de 61 migrantes que seguiam a bordo de um barco com 72 passageiros.

“Queremos colocar os factos sobre a mesa, compreender o que aconteceu. Foi um problema de comunicação, ou a opção de não intervir, de não os socorrer, foi deliberado?”, pergunta Strik. Por enquanto, concluiu-se que os migrantes “encontravam-se em perigo, o mar estava agitado, não tinham comido nem bebido nada, estavam doentes e não havia combustível”.

A senadora, que foi até Roma para se encontrar com os sobreviventes e as autoridades italianas, sublinhou que, segundo as últimas informações, “cerca de 2.000 pessoas estão dadas como desaparecidas desde o início do ano”. E que, em relação a estes casos, “os membros da União Europeia não agiram de maneira apropriada, deveriam aceitar mais a presença dos refugiados e ajudar a Itália e a Malta a gerir esta crise”, contou Strik numa entrevista à AFP.

Esta investigação surgiu após o pedido de um padre que avisou a NATO e a guarda costeira italiana para a presença de um barco no Mediterrâneo que transportava migrantes africanos em estado crítico. O padre alega que a embarcação foi ignorada por um helicóptero militar, que apenas deixou água e bolachas para os migrantes e depois desapareceu.

“Falei com os migrantes, alertei as autoridades. As pessoas estavam dentro do barco a acenar com bebés no ar quando uma embarcação naval passou, e mesmo assim acabaram por morrer à fome e à sede”, contou Moses Zerai, um padre eritreu que vive em Roma. Zerai recebeu um telefonema do barco, o qual saiu de Trípoli em direcção à ilha italiana de Lampedusa, no dia 25 de Março.

Na terça-feira, Zerai e três dos únicos nove sobreviventes foram entrevistados em Roma por Strik. “O que ouvi hoje foi horripilante”, concluiu a senadora holandesa, que irá também entrevistar funcionários da NATO e do Governo de Malta, o qual terá, segundo a guarda costeira italiana, recebido o alerta.

Zerai, fundador de um grupo italiano de assistência a migrantes, afirma ter recebido desde o início do ano cerca de 50 chamadas desesperadas de migrantes a bordo de embarcações a afundar ou à deriva.

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