Atentados suicidas mataram 12 mil iraquianos até 2010

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Um atentado em 2004 no centro de Bagdad, como houve centenas Faleh Kheiber/Reuters

Os ataques de bombistas suicidas no Iraque entre 2003 e 2010 causaram a morte de 12.284 civis iraquianos e de 200 soldados estrangeiros.

Os números são de um estudo publicado pela revista cientifica "Lancet" num dossier especial dedicado aos dez anos dos atentados do 11 de Setembro. Segundo os dados recolhidos, entre estes 12.284 mortos, 75 por cento são homens, 14 por cento crianças e 11 por cento mulheres.

No mesmo período, os ataques de bombistas suicidas mataram 200 soldados estrangeiros, incluindo 175 norte-americanos, muito menos do que os civis.

“Um acesso rápido a um tratamento adequado no hospital é essencial para se sobreviver aos ferimentos provocados pela explosão de uma bomba, o que pode ser especialmente difícil para os civis iraquianos”, escrevem os autores do estudo para explicar a grande diferença entre os números de vítimas civis e militares. Segundo os investigadores, “a sobrevivência dos iraquianos feridos em ataques suicidas foi sem dúvida dificultada pela falta gritante de salas de urgência, equipamento médico e pessoal”.

O estudo foi realizado por uma equipa de investigadores dirigida por Madelyn Hsiao-Rei Hicks, do Instituto de Psiquiatria do King’s College de Londres e do Iraq Body Count ((www.iraqbodycount.org), organização de voluntários que contabiliza as vítimas da violência no Iraque desde o início da invasão norte-americana, em Março de 2003.

Este é o primeiro estudo científico sobre as vítimas dos atentados suicidas no Iraque, mas já houve tentativas para fazer esta contabilidade.

Em 2008, um grupo de jornalistas do diário britânico “Independent” passou um mês a ler jornais árabes, agências de notícias e estatísticas, concluindo que até essa altura 1121 pessoas se tinham feito explodir no Iraque, matando pelo menos 13 mil. Segundo, Mohammad M. Hafez, autor de “Suicide Bombers in Iraq”, houve pelo menos 514 atentados entre 22 de Março de 2003 e 18 de Agosto de 2006.

Nesses anos, escreveu Hafez, os atentados foram uma pequena parte da insurreição, mas tiveram um efeito desproporcionado. "Como é que um país como o Iraque, que nunca experimentou o terrorismo suicida até 2003, pôde produzir o maior arsenal de 'mártires' alguma vez visto num período comparável?", perguntava-se Hafez.

O israelita Yoran Schweitzer (director do Projecto Terrorismo no Instituto para os Estudos de Segurança Nacional de Israel), ouvido pelo PÚBLICO para um trabalho sobre o tema em 2009, fala numa "produção em massa" de homens e mulheres bombas que foi possível pela conjugação de circunstâncias especiais: a guerra dos Estados Unidos, a escolha do Iraque como principal palco de jihad pela Al-Qaeda e o conflito sectário que os próprios atentados ajudaram a alimentar, entre xiitas e sunitas. "Foi fácil encontrar recrutas, havia o 'know-how', resultou, seguiu-se o fenómeno de cópia, o efeito de contágio.”

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