Prémio de liberdade de imprensa atribuído a Hugo Chávez levanta coro de críticas

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Entrega de prémio a Chávez foi considerada "inconcebível" Pablo Busti/Reuters

Dizer-se que a escolha gerou controvérsia é um exagero... mas por defeito. A decisão da Universidade de La Plata, na Argentina, de atribuir o prémio Rodolfo Walsh para a liberdade de imprensa ao Presidente da Venezuela Hugo Chávez, levantou um coro de críticas indignadas daqueles que o acusam de silenciar a oposição e de impedir a prática de um jornalismo independente.

Chávez, que está na Argentina em visita oficial para assinar acordos comerciais, foi reconhecido pela escola de Jornalismo daquela universidade estatal pelo seu “contributo para a comunicação popular” ao desmontar os “monopólios mediáticos vigentes” e pelo seu “inquestionável compromisso na defesa da liberdade do seu povo, na consolidação da unidade latino-americana e na promoção dos direitos humanos e valores democráticos”.

“Viva o pensamento livre, fora com a hegemonia”, bradou Chávez, ao receber o prémio, perante um salão repleto de estudantes entusiasmados. O Presidente venezuelano ensinou a fórmula do jornalismo praticado no seu país: “Uma nova dinâmica de comunicação e informação popular, livre da ditadura mediática da burguesia e do império”, que dá às pessoas sem voz acesso aos jornais, rádios e televisão.

No entanto, o que Chávez designa como pioneirismo, é denunciado como censura, prepotência e aniquilação da liberdade de expressão pelos seus críticos. Gonzalo Marroquín, o presidente da Inter-American Press Association, qualificou o líder venezuelano como “um claro inimigo da liberdade de expressão”. “Demoraria demasiado tempo a enumerar a longa cadeia de acções encetadas por Chávez contra o direito do povo venezuelano a ser informado com independência e objectividade”, comentou.

Os jornais da argentina – que estão em guerra contra a Presidente Cristina Fernandez por causa de nova legislação que alegam limita a liberdade da imprensa – condenaram a decisão da universidade de La Plata, e a própria presidente da comissão da liberdade de expressão do Parlamento, Silvana Giudici, considerou a entrega do prémio a Chávez “inconcebível” e uma “contradição”.

Desde que assumiu o poder, em 1999, Chávez tem seguido uma estratégia de controlo do panorama mediático do país. Além de criar a televisão estatal Telesur, apresentada como “alternativa” à programação e informação das cadeias privadas, Chávez alterou as leis e regulamentos que regem a actividade das empresas de comunicação social, forçando o encerramento de 32 estações de rádio e dois canais de televisão que recusaram transitir os seus discursos e outros programas obrigatórios. Só os jornais em papel têm mantido a sua independência financeira e editorial.

E não é só a comunicação social que está na mira do Presidente da Venezuela. Em Dezembro do ano passado, Chávez apresentou um projecto de lei ao Parlamento consagrando o direito de restringir, censurar e proibir as mensagens publicadas em media sociais como o Facebook ou o Twitter que disseminassem informação apelando à critica, desobediência ou violência contra o chefe de Estado.

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